Repositório Colecção: UAUM - TDUAUM - TDhttps://hdl.handle.net/1822/101282024-03-28T10:05:27Z2024-03-28T10:05:27ZA construção monástico-conventual no Noroeste da Península Ibérica: uma abordagem multidisciplinar da História da Construção desde a época medieval até à atualidadePereira, António Manuel Portela de Sáhttps://hdl.handle.net/1822/735822021-07-09T09:00:35Z2021-07-09T09:00:34ZTítulo: A construção monástico-conventual no Noroeste da Península Ibérica: uma abordagem multidisciplinar da História da Construção desde a época medieval até à atualidade
Autor: Pereira, António Manuel Portela de Sá
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo contribuir para o estudo da construção dos edifícios monástico conventuais do Noroeste da Península Ibérica, entre a época medieval e a atualidade, utilizando como
caso de estudo o Convento de São Salvador de Vilar de Frades (Barcelos) e analisando para o efeito as
diferentes etapas do processo construtivo, desde a conceção até ao edifício atual, considerando
igualmente os intervenientes e o contexto ideológico, sociocultural e económico em que ocorrem.
A concretização deste estudo foi possível com a implementação de uma abordagem multidisciplinar
e com recurso a diferentes fontes, que de forma sistemática permitiram analisar os processos e a
evolução construtiva, respeitando a diacronia estratigráfica e estrutural, do edificado.
O conjunto edificado formado pelo complexo conventual de Vilar de Frades é fruto de uma longa
ocupação, pelo menos desde o século XI até à atualidade, da qual resultaram testemunhos construtivos
de diferentes fases cronológicas, assim como um diversificado conjunto de fontes manuscritas e gráficas
que permitiram estudar a evolução do complexo, bem como identificar traços comuns a outros espaços
do Noroeste da Península Ibérica.
Deste modo, foi possível concretizar uma abordagem teórica e crítica aos conhecimentos existentes
sobre a construção dos complexos monástico-conventuais à escala do Noroeste Ibérico, bem como
implementar uma abordagem metodológica sistemática não intrusiva passível de ser aplicada a qualquer
complexo ou edifício e estudar diferentes aspetos do processo construtivo.
Igualmente, para o caso de estudo de São Salvador de Vilar de Frades, foi possível analisar as
diferentes fases construtivas, aprofundando o conhecimento sobre os processos construtivos,
nomeadamente ao nível dos comportamentos estruturais e das técnicas empreendidas. No âmbito do
estudo dos elementos construtivos foi possível caraterizar tipologicamente, cronologicamente e
espacialmente os elementos construtivos presentes na construção monástico-conventual, bem como as
propriedades e proveniência dos principais materiais utilizados.
A interpretação produzida permitiu, igualmente, lançar as bases para o estudo mais abrangente,
nomeadamente ao nível do Noroeste da Península Ibérica, da construção e dos construtores associados
aos espaços monástico-conventuais da época moderna.; The aim of the present work is to contribute to the study of the construction of monastic-conventual buildings in theNorthwest of the Iberian Peninsula, between medieval times and today, using as a case study the Convent of São Salvador de Vilar de Frades (Barcelos) and analysing for this purpose the different stages of the construction process,
from design to the current building, but also considering the participants and the ideological, socio-cultural and
economic context in which they occur.
The accomplishment of this study was possible due to the implementation of a multidisciplinary
approach supported by the use different sources, which in a systematic way allowed to analyse the
processes and the constructive evolution, respecting the stratigraphic and structural diachrony of the
different spaces.
The building complex of Vilar de Frades is the result of a long occupation, at least from the 11th
century to the present, which conserves constructive testimonies from different chronological phases, as
well as a diverse set of handwritten and graphic sources that allowed study the evolution of the complex,
as well as to identify features common to other spaces in the Northwest of the Iberian Peninsula.
Thus, it was possible to accomplish a theoretical and critical approach to the existing knowledge about
the construction of monastic-conventual complexes within the scale of the Iberian Northwest, as well as
to apply a systematic non-intrusive methodological approach, which can be applied to any complex or
building and study different aspects of the construction process.
Likewise, for the case study of São Salvador de Vilar de Frades, it was possible to analyse the different
construction phases, expanding the knowledge about the construction processes, namely in terms of
structural behaviours and used techniques. In the scope of the study of building elements it was possible
to characterize typologically, chronologically, and spatially the elements present in the monasticconventual
construction, as well as the properties and provenance of the main materials used.
The interpretation produced also made it possible to lay the foundations for a more comprehensive
study, namely for the northwest of the Iberian Peninsula, of the construction and builders associated to
the monastic-conventual complexes of the modern era.
Descrição: Tese de Doutoramento em Arqueologia (Área de especialização em Arqueologia da Paisagem e do
Povoamento)
<b>Tipo</b>: doctoralThesis2021-07-09T09:00:34ZA domus romana no NO Peninsular. Arquitetura, construção e sociabilidadesMagalhães, Fernanda Eugénia Pugahttps://hdl.handle.net/1822/641092020-02-28T15:27:08Z2020-02-28T15:27:07ZTítulo: A domus romana no NO Peninsular. Arquitetura, construção e sociabilidades
Autor: Magalhães, Fernanda Eugénia Puga
Resumo: O estudo da arquitetura doméstica urbana romana representa, atualmente, um estimulante campo
de abordagem da sociedade romana provincial, muito articulado com o estudo das cidades, o qual
tem vindo a ser potenciado pelas importantes contribuições da Arqueologia Urbana, que permitiram
renovar o saber relativo ao universo urbano provincial romano, muito para além daquele que nos
foi tradicionalmente revelado pelos textos escritos da Antiguidade.
É nesse contexto que se insere este trabalho, que corporiza os resultados da nossa investigação,
cujo ponto de partida se centra na análise e valorização da arquitetura doméstica romana de
Bracara Augusta, uma cidade provincial que passou a ser conhecida a partir das escavações
realizadas em Braga ao longo de mais de quatro décadas, as quais permitiram ir paulatinamente
revelando os vestígios de edifícios públicos e privados, de ruas, pórticos e outras infraestruturas,
cuja organização viria a permitir restituir a malha urbana fundacional da cidade. Assim, o objetivo
deste trabalho prendeu-se com uma necessária revisão e sistematização da vasta informação
arqueográfica de Braga, tendo em vista compará-la, num primeiro momento, com os dados
relativos às outras cidades capitais de conventos do NO peninsular e, num segundo, com os dados
disponíveis a nível peninsular para compreender a especificidade das casas romanas de elites das
cidades daquela que foi a última região peninsular a ser integrada na malha administrativa romana.
Pretendia-se ainda compreender e refletir sobre o modo como as domus do NO peninsular refletiam
as particularidades culturais específicas daquela região e veiculavam a importação dos modelos
de casas itálicas e romanas, considerando o seu potencial enquanto contexto de abordagem do
quotidiano e das sociabilidades urbanas.
Tendo em vista esses objetivos procurámos valorizar as domus romanas de um ponto de vista
arquitetónico e construtivo, o que permitiu compreender o modo como os modelos itálicos foram
assimilados e como se afirmaram algumas soluções construtivas regionais, muito marcadas
pela topografia, que impôs soluções particulares de distribuição e organização dos espaços das
habitações. Esta abordagem permitiu atestar o grau de integração social e cultural dos proprietários
e o modo como adaptaram os modelos e a linguagem da arquitetura residencial itálica, num
momento em que a integração dessas realidades havia já conhecido um longo caminho testado
desde o século II a.C. nas cidades do sul peninsular. Neste sentido, procurámos analisar e discutir
as funções e usos sociais dos espaços domésticos, tirando partido do conhecimento de diferentes
contextos urbanos peninsulares e de novas perspetivas de estudo antropológico da casa romana.; The study of urban domestic architecture is currently a creative and stimulating approach to the field of
provincial Roman society, very linked to the study of cities, which has been ehnanced by the important
contributions of Urban Archeology, allowing to renew knowledge concerning the universe of Roman
provincial cities, far beyond the one which was traditionally revealed by the written texts of antiquity.
This is the context of this work, which incorporates the results of our research. Our starting point
was centered on the analysis and valuation of the Roman domestic architecture of Bracara Augusta,
a provincial city that became known through the excavations of Braga over a period of more than
four decades, which allowed to gradually reveal remains of public and private buildings, streets,
porticoes and other infrastructures, whose organization allowed to define the foundational urban
layout of the Roman city. Thus, the aim of this work was a necessary revision and systematization
of the vast archaeological data of Braga, in order to compare it, in a first moment, with the data
related to the other cities of peninsular NO with a role of convent capitals and, in a second, with
the data available at the peninsular level to understand the specificity of the Roman elite houses
of the cities of the last peninsular region to be integrated into the Roman administrative network. It
was also intended to understand and reflect on how the domus of the peninsular NO show specific
cultural peculiarities of that region and conveyed the import of the models of italic and Roman
houses, considering its potential as a context for approaching daily life and urban sociabilities.
Given these objectives we sought to value the Roman domus of an architectural and constructive
point of view, which allows us to understand how the italic models were assimilated and
how some regional constructive solutions were affirmed, very marked by the topography constraints,
which imposed particular solutions of distribution and organization of living spaces.
This approach give us the oportunity to observe the degree of social and cultural integration
of the domus owners and showing the way in which they adapted the models and the language
of the italic domestic architecture, at a time when the integration of these realities had already
known a long way tested since the century II aC in the cities of the southern peninsular
areas. In this sense, we have tried to analyze and discuss the social functions and the uses
of the domestic spaces, taking advantage of the knowledge of the different peninsular urban
contexts, as well as the new perspectives of anthropologic studies of the Roman house.
Descrição: Tese de doutoramento. Ramo do conhecimento em Arqueologia, especialidade Arqueologia da Paisagem e do Povoamento
<b>Tipo</b>: doctoralThesis2020-02-28T15:27:07ZMorte, memória e identidade: uma análise das práticas funerárias de Bracara AugustaBraga, Cristina Maria Vilas Boashttps://hdl.handle.net/1822/590442019-02-12T15:44:29Z2019-02-12T15:44:29ZTítulo: Morte, memória e identidade: uma análise das práticas funerárias de Bracara Augusta
Autor: Braga, Cristina Maria Vilas Boas
Resumo: O trabalho que apresentamos teve como principal objetivo a reconstituição das vivências
da morte e das práticas sociais em torno dos contextos funerários romanos, partindo de uma
análise detalhada das evidências materiais recuperadas pelas escavações das necrópoles de
Bracara Augusta. Para tal foram considerados os dados provenientes de 22 núcleos de necrópoles
distribuídas em torno do espaço suburbano da cidade romana e tardo-antiga. Foi nossa intenção
estudar detalhadamente cada conjunto sepulcral, compreendendo o tipo de estruturas que lhe
estavam associadas e como se organizava cada um dos espaços de enterramento nos distintos
períodos cronológicos. Esta tarefa, num outro nível de análise, permitiu entender os ritmos de uso
de cada núcleo de necrópole (descontinuidades/continuidades, pausas/retomas), em articulação
com a importância estratégica dos eixos viários romanos a que se associavam, potenciando a
recriação da topografia dos diversos espaços fúnebres (organização, disposição das
sepulturas/construções, natureza dos rituais, variações cronológicas). Articulando essa análise
com os dados da epigrafia funerária foi possível abordar o tema da(s) sociabilidade(s) da morte,
bem como a evolução das práticas funerárias. Procedemos ainda a um estudo sistemático dos
conjuntos votivos, não só de forma a afinar a cronologia de construção e de uso desses espaços,
mas também com o intuito de reconhecer eventuais marcas rituais patentes nas peças,
executando, simultaneamente, tarefas de categorização e de reconhecimento dos diversos tipos
de construções funerárias. Por esta via, considerando que as necrópoles se constituem como
lugares privilegiados para apreciar as mudanças culturais, procuramos reconhecer os fenómenos
de assimilação ou resistência cultural subjacentes às práticas funerárias que possam elucidar
sobre o processo de aculturação das populações indígenas ao longo do século I e compreender
como a comunidade cívica urbana assimilou as novas práticas funerárias durante a Antiguidade
Tardia, associadas à disseminação do Cristianismo. Para este estudo foram ainda tidos em conta
os dados de natureza antropológica, carpológica e antracológica que permitem um conhecimento
mais objetivo sobre as características dos procedimentos funerários.; The work we now present aims to reconstitute the experiences of death and the social
practices surrounding roman funerary contexts, through the detailed analysis of the material
evidence recovered in the excavations of Bracara Augusta necropolises. Data from 22 necropolises
nuclei distributed in the surrounding suburban space of the roman and late roman city were
considered. The detailed study of each set of graves was carried out, in an endeavor to understand
the type of structures associated with it and how each burial space was organized in different
chronological phases. This task allowed, at a different level of analysis, to understand the rhythms
of use (discontinuity/continuity; paused/resumed activity) of each necropolis nucleus and their
relationship to the strategic importance of the associated roman roadways, which enabled the
topographic recreation of the different funerary contexts (organization, placement of
graves/structures, nature of rituals, chronological variation). By coordinating this analysis with
funerary epigraphy data, it was possible to approach the sociability (ies) of death, as well as the
evolution of funerary practices. The systematic study of the votive sets was accomplished, aimed
not only at refining the chronology of the construction and use of these spaces, but also at
identifying ritual markings potentially displayed in the objects, while recognizing and categorizing
different types of funerary constructions. Thus, given that necropolises are preferential contexts
when it comes to identifying cultural change, cultural assimilation or resistance phenomena which
underlie in the funerary practice we sought to perceive the acculturation process of indigenous
populations throughout the 1st century and understand how the urban civic community incorporated
new funerary practices during Late Antiquity, associated to the dissemination of Christianism. This
study also considered anthropological, carpological and anthracological data, which more
objectively quantify funerary practice traits.
Descrição: Tese de Doutoramento em Arqueologia (Especialidade em Arqueologia da Paisagem e do Povoamento)
<b>Tipo</b>: doctoralThesis2019-02-12T15:44:29ZA Idade do Bronze na bacia do Rio Ave (Noroeste de Portugal)Sampaio, Hugo Aluaihttps://hdl.handle.net/1822/355592016-02-11T18:09:45Z2015-06-12T12:54:10ZTítulo: A Idade do Bronze na bacia do Rio Ave (Noroeste de Portugal)
Autor: Sampaio, Hugo Aluai
Resumo: Esta tese tem como principal objetivo aumentar o conhecimento sobre a Idade do Bronze
da bacia do rio Ave, no Noroeste de Portugal. Através da articulação sincrónica e diacrónica dos dados nos
seus contextos físico e cultural e à luz de novas premissas teóricas estudou-se este período de uma forma
holística. Tal visa interpretar o modo como as comunidades se estruturaram no meio onde estavam imersas
ou incorporadas e como interagiram com ele.
Privilegiando a contextualização dos dados, nomeadamente os diferentes lugares construídos e
frequentados pelas populações da Idade do Bronze, o estudo foi direcionado segundo três eixos temáticas, a
saber: o povoamento, os contextos e as práticas funerárias e a metalurgia e as deposições metálicas. Foram,
também, interpretados certos lugares “naturais”, cujas materialidades arqueológicas denunciavam ampla
diacronia de frequência, traduzindo a sua importância na estruturação e na perceção do espaço por parte das
populações da Idade do Bronze.
No que respeita ao povoamento, apesar da ausência de dados para o Bronze Inicial, o Bronze Médio
pauta-se pela ocupação multivariada do espaço. Prevalecem os sítios abrigados, de baixa altitude, com acesso
a vales de eventual potencialidade agrícola e a corredores naturais de circulação, alguns deles relativos a
ocupações frustres, enquanto outros são de maior dimensão, correspondendo, talvez, a ocupações mais
duradouras. Nas regiões montanhosas os povoados sobre áreas abrigadas de planaltos estão perto de cursos
de água e em locais de fácil circulação, sendo rara a ocupação do topo de montes. Para o Bronze Final, a par
da variada ocupação do terreno, acentua-se o povoamento em altitude, com boas condições de visualização
sobre zonas agro-pastoris de montanha mais próximas, sobre terras férteis no fundo dos vales e sobre as
principais vias naturais de circulação, quer de cumeada quer de vale – pontos estratégicos de encruzilhada
entre diferentes bacias ou rios. Embora a ocupação dos vales facilitasse a circulação, o povoamento em altura
materializaria o domínio real e simbólico do território e dos seus recursos e permitiria consolidar e estabelecer
fronteiras simbólicas entre diferentes territórios, nos quais atuariam diferentes influências. Nota-se que alguns
destes povoados ocuparam montes já simbolicamente ativos desde o Neo-Calcolítico e materializados por
gravuras rupestres, o que poderá ter sido importante na escolha do lugar de residência.
Em termos de lógica de povoamento também se crê que certos povoados ocuparam
intencionalmente locais com visibilidade para determinadas orografias de grande significação coletiva. No
conjunto, as múltiplas opções de povoamento transparecem desempenhos e sentidos distintos, no âmbito de
uma rede de lugares e de significados interconectados em regime de complementaridade.
Em relação aos contextos e práticas funerárias desconhecem-se dados para o Bronze Final. Durante
o Bronze Inicial, a presença de objetos metálicos e de alguns túmulos de grande investimento construtivo, nas
áreas de vale, permite pensar que existiram personagens extremamente significantes para as comunidades,
os quais seriam recordados e celebrados. Nas áreas montanhosas o facto de os monumentos sob tumuli
serem, neste período, de maior envergadura do que nos seguintes, indicia, ainda, a importância do papel
social da morte visível e da preservação da memória dos antepassados. No Bronze Médio os diferentes tipos
de arquiteturas funerárias conectadas, respetivamente, com áreas de montanha ou de vale, parecem
corresponder a populações com modos de vida e conceções distintas da morte. Para as comunidades
serranas a morte, como marco no espaço, e o culto aos antepassados, ainda parece importante. Nos vales
predomina a morte invisível e a perda da importância do cadáver como referência coletiva e referência
espacial. Há variedade no tratamento dos cadáveres, com indícios de inumação e de cremação em urna ou in
situ. As oferendas tornam-se mais simples e à base de determinadas formas cerâmicas, quando não estão ausentes de todo, tendo desaparecido os objetos metálicos, os quais parecem ser agora canalizados para
outros cenários.
Não raramente, as práticas funerárias implementaram-se em lugares liminares ou de passagem,
entre o vale e o topo do monte ou nas imediações ou nas linhas de cumeada, entre a terra e o céu, o que se
pensa ser propositado e relacionar-se com a morte percecionada como um momento de passagem entre dois
estádios. Em relação a algumas estruturas funerárias, como as sepulturas planas, observam-se hipotéticas
relações com a orientação das águas ou os ciclos solares ou lunares, como que associando a morte a um
ciclo ou a uma viajem. Há, ainda, lugares onde a convergência de práticas mortuárias e de outras ações de
difícil interpretação, denunciando larga diacronia de frequência cíclica, pelo menos desde o Bronze Inicial ao
Final, revelam biografias sem paralelo. Parecem ser lugares de memória e de grande significado coletivo
associados a ancestrais ciclicamente celebrados, quer através de outros enterramentos quer de deposições
várias.
Na bacia do Ave os indícios irrefutáveis de metalurgia. A par dos objetos associados à produção, os
parcos objetos metálicos encontrados nos locais de produção, nos denominados povoados, apontam para a
sua manipulação noutros contextos. A significativa quantidade destes objetos, avulsos, ou em depósitos,
associada a informações contextuais, deixam transparecer a sua amortização em associação com certas
caraterísticas “naturais” (como montes, vales e bacias de receção, além de poderem associar-se a
afloramentos, a nascentes e ao subsolo). Tais factos, pela frequência de ocorrência, não terão sido aleatórios,
notando-se padrões normativas de foro cultural. É neste cenário que ganham especial destaque, enquanto
elementos estruturantes da paisagem da Idade do Bronze, o Monte da Saia (em Barcelos) e o Monte da
Penha (em Guimarães). A sua excecionalidade manifesta-se pela frequência cíclica que denotam, conforme
atestado pela concentração anómala de diferentes materialidades metálicas, no primeiro caso, e cerâmicas e
metálicas no segundo. Essas materialidades corroboram a ampla diacronia biográfica destes lugares que,
entre diversas manifestações, a partir do Bronze Médio mas, em especial, do Bronze Final, é reforçada pela
deposição de objetos metálicos. Perceber o Monta da Saia e o Monte da Penha como sítios habitacionais da
Idade do Bronze é redutor e, até à data, facto não comprovado. Em contrapartida, ambos integrariam uma
rede de lugares da Idade do Bronze na qual as populações viveram e se movimentaram, materializando uma
paisagem eivada de diferentes sentidos, significados e memórias.
Saliente-se, contudo, que durante o Bronze Final há outras orografias que parecem ter sido
significantes, como o Monte do Sino, o Monte de S. Romão, o Alto do Livramento ou o Monte S. Miguel o Anjo,
com os quais se associam objetos metálicos. O mesmo se pode dizer dos vales do rio Este e do ribeiro da
Abelheira, ótimos corredores de circulação onde depósitos de “utensílios” monotipológicos, sempre no
subsolo, todos diferentes e efetuados em diversos moldes, levam a equacionar a hipótese de terem sido
amortizados como atos celebrativos comunais visando a concretização de pactos ou acordos entre membros
de diferentes comunidades, que usufruíam de pontos de confluência e de passagem comuns conhecidos,
muito provavelmente, desde longa data.; This thesis aims to increase the knowledge about the Bronze Age of the river Ave’s basin,
in the Portuguese Northwest. Through the data’s synchronic and diachronic articulation with its physical and
cultural contexts, and using new theoretical approaches, that chronological period was studied in a holistic
manner. This seeks to interpret the way how communities were structured in the environment where they were
immersed or incorporated, and how they interacted with it.
Emphasizing the data’s contextualization, namely the different places constructed and used by the
Bronze Age populations, this study was carried out according to three main topics: settlement, funerary
contexts and practices and metallurgy and metallic depositions. It also were interpreted certain “natural
places”, whose archaeological materialities denounce large frequency diachronies, revealing its importance to
space’s structuration and perception for the Bronze Age societies.
In regard to settlement there is no data to the Early Bronze Age. The Middle Bronze Age shows a
multivariate space occupation. The most common are sheltered sites, in lower altitudes, with easy accesses to
eventual agricultural valleys and natural circulation corridors. Some of this sites are sparing occupations,
although other show larger dimensions, probably corresponding to long lasting dwellings. In mountainous
regions the settlements occupy well irrigated plateaus, near water courses easily accessed. The top of
mountains occupation is rare. During the Late Bronze Age the varied occupation continued, but the settlement
in higher altitude becomes more usual. These places have good visual contact over the surrounding nearest
shepherding zones, the fertile soils in the valleys and the main circulation pathways from the valley or the
ridge, strategic intersection points between different rivers or basins. Although the valleys’ occupation favored
the circulation, the high altitude settlement materialized the real and symbolic domination over the territory,
where different influences acted. Note that some of these settlements occupied Neo-Chalcolithic symbolic
mounts, activated from previous times by rock art engravings. This probably was important to the choice of
those loci. With respect to settlement’s logic we also believe that some settlements were intentionally located
in sites with good visibility to some kind of hills, probably with collective significance. As a hole, the multiple
options may show distinct significances and assignments, in the scope of a network of places and meanings
interconnected by complementary relations.
Concerning to the funerary contexts and practices there is no data to the Late Bronze Age. During the
Early Bronze Age the metallic objects are common in graves, some of which showing great constructive
investment. These structures, connected with the valley, allow us to thing that extremely important characters
to the communities existed, which would be remembered and celebrated. During this period in the
mountainous areas some monuments under tumuli are larger than the subsequent, presumably indicating that
the social role of death still remained visible, so as the ancestors’ memory preservation. In the Middle Bronze
Age the different types of funerary architectures are connected with higher altitudes and valley, and may
correspond to populations with distinct lifestyles and conceptions of death. To the mountainous communities
death is a way to mark the space, where still remains the ancestors’ worship. In the valleys proliferates an
invisible death and the loss of the body as spatial collective reference. There are varieties on the corpse’s
treatment, showing uses of inhumation and cremation in urn or in situ. The offerings are simpler and restricted
to some kind of ceramic pots. Sometimes there are no offerings at all and metallic objects are absent,
probably channeled to other scenarios. More often, funerary practices were implemented in laminar or
passage places, between the valley and the top of the mountains or near the ridges, between the sky and the earth, which we think that has to do with the manner how death was seen, probably percept and conceived as
a passage moment between two stages. In relation to some funerary structures, like flat graves, we observe
hypothetic links with the water courses and the solar or lunar cycles, as associating death to a cycle or a
journey. There are also places where mortuary practices and other actions converged. Although difficult to
interpret, they denounce large cyclical frequencies, at least since between the Early and Late Bronze Age.
Revealing uncommon biographies and probably working as memorial places of great collective significance,
the associations with the ancestors and their cyclical celebration, either by burials or by some kind of
depositions, seems to be practiced.
Irrefutable evidences of metallurgy are also known in the Ave’s basin, as the presence of objects
associated with the production show. However, the scarce objects found in the production sites, in the so
called settlements, points out to their manipulation in other contexts. The significant quantity of those objects,
discovered either alone or in deposition sets, show high links with some “natural” features (such as mounts,
valleys and water basins, beyond their usual connection with outcrops, water sources and the subsoil). These
facts, often registered, cannot be seen as random, since some cultural and normative patterns are noticed. In
this scenario some structurating elements on the Bronze Age’s landscape stand out, such as Mount Saia
(Barcelos) and Mount Penha (Guimarães). Their exceptionality
is manifested by the cyclical frequency exhibited, as one can see by the anomalous concentration of
different metallic materialites in the first case, and ceramic and metallic in the latter. Those materialities
corroborate the unique and wide diachony of both places which by the mean of various manifestations, from
the Middle Bronze Age but specially during the Late Bronze Age, was reinforced by the amortization of metallic
objects. To understand Mount Saia and Mount Penha as simple sites for Bronze Age settlements is quite
reducer, besides the lack of confirmation that exists. By the contrary, both were part of the Bronze Age network
of places where people lived, acted and moved, materializing a landscape crowded with different senses,
meanings and memories.
However, let us stress that during the Bronze Age there are other orographies that show some
significance, like Mount Sino, Mount S. Romão or Mount S. Miguel-o-Anjo, where metallic objects were also
recovered. The same can be said in relation to the valleys of rivers Este and Abelheira, good circulation
corridors where the deposition of monotypological sets of tools took place under the subsoil. As a working
hypothesis, the amortization of these sets could be the result of communal celebration acts to concretize pacts
or agreements established between members of different communities, which benefit from the same
confluence points of passage known, very likely, since ancient times.
Descrição: Tese de doutoramento em Arqueologia (área de especialização em Arqueologia da Paisagem e do Povoamento)
<b>Tipo</b>: doctoralThesis2015-06-12T12:54:10ZA arte esquemática do Nordeste Transmontano: contextos e linguagensFigueiredo, Sofia Catarina Soares dehttps://hdl.handle.net/1822/290852016-02-11T17:20:11Z2014-05-19T11:07:13ZTítulo: A arte esquemática do Nordeste Transmontano: contextos e linguagens
Autor: Figueiredo, Sofia Catarina Soares de
Resumo: O trabalho que agora se apresenta, procurou retratar de forma sistemática e
atualizada a pintura esquemática da Pré-história recente do Nordeste Transmontano,
ou seja, do território inscrito dentro dos limites administrativos do distrito
de Bragança. Para tal foram realizados diversos trabalhos de campo e definidas
metodologias próprias que procuraram, antes de mais, fazer uma análise endógena
das manifestações humanas adscritas ao universo da pintura esquemática
e dos seus contextos. Assim, por um lado, foram realizados trabalhos de
campo ao nível da prospeção e da realização de sondagens arqueológicas que
procuraram uma melhor compreensão de um mundo até então pouco estudado
na arqueologia nacional. Por outro lado, foi construído um modelo metodológico
de aproximação explicativa para a pintura esquemática, procurando os seus
diversos sentidos e desígnios. Este modelo apoiou-se em diferentes correntes
teóricas, sendo posteriormente vertido para uma grelha de análise estatística que
procurou traçar as diferentes correlações entre as variáveis impressas à pintura
esquemática, definindo as suas características constantes bem como as suas
irregularidades. Esta análise permitiu a definição de dois grupos distintos e bem
delimitados dentro de um conjunto de vinte e seis sítios analisados, para os quais
se procurou realizar uma interpretação, tendo por base os principais eixos de
discurso das últimas décadas aplicados à investigação da Pré-história recente
de Trás-os-Montes Oriental. O Grupo I, que corresponde genericamente ao período
Neolítico, assentou a sua interpretação nos recentes trabalhos relativos à
neolitização da região, na sua relação com todo um conjunto ainda mal estudado
de motivos gravados, na sua articulação com os contextos sepulcrais e, por fim,
no papel desempenhado pela pintura esquemática como fator de coesão social
neste largo período temporal. Tentou-se ainda dar sentido ao Grupo II, balizado
cronologicamente no Calcolítico regional, apoiando a narrativa nos contextos habitacionais
que geralmente se associam às estações com pintura esquemática,
com o aumento substancial da figuração humana nas suas mais diversas formas
e, concluindo, analisando o conjunto de sítios com pintura esquemática da serra
de Passos, como exemplo paradigmático da longa vigência temporal que a pintura
esquemática teve no Leste Transmontano.; The present work aims to systematically delineate recent pre-historic schematic art
in northwestern Trás-os-Montes (which corresponds to the administrative district
of Bragança). To achieve this, field work was carried out and methodologies were
constructed which, above all else, attempted to analyze the universe of schematic
art and its archaeological contexts. On one hand, both field-walking and excavation
were undertaken to better understand the archaeology of the geographical
area which, until now, has been understudied in Portuguese archaeology. On the
other, a methodological model was constructed which tries to come close to an
explanation of schematic art and its diverse meanings and purposes. The model
itself is supported by different theoretical approaches subsequently applied to a
statistical analyses grid, which seeks to show different correlations between the
diverse variables defined for schematic art. By doing this we defined the consistent
characteristics, as well as the irregularities, in the art. This study allowed the
definition of two distinct groups within the twenty six sites analyzed, and for each
of these groups an interpretation was sought, using as a base the main lines
of discourse on prehistory used in Eastern Trás-os-Montes in the last decades.
Group I corresponds to the Neolithic period, and is analyzed within the context of
the neolithization of the region, in the relations it establishes with engraved motifs
as well as burial contexts, and, finally, on the role of schematic art as a factor in
social cohesion throughout this large chronological period. We also tried to make
sense of Group II, which corresponds chronologically to the Chalcolithic. We supported
the narrative in its relations to habitational context and its increase in the
representation of the human figure in various forms and on different supports.
Finally, a group of sites in the Serra de Passos was analyzed as a paradigmatic
example of schematic art in Trás-os-Montes over a long chronology.
Descrição: Tese doutoramento em Arqueologia (área de conhecimento de Arqueologia da Paisagem e do Povoamento)
<b>Tipo</b>: doctoralThesis2014-05-19T11:07:13Z