Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/25303

TítuloA Ordem Terceira de São Francisco na cidade de Guimarães : (1850-1910)
Autor(es)Oliveira, Carla Manuela Baptista da Silva
Orientador(es)Sá, Isabel dos Guimarães
Data2003
Resumo(s)Após ter finalizado a parte curricular do Curso de Mestrado em Património e Turismo e sabendo que tinha pela frente a elaboração de uma tese, o primeiro desafio que se colocou diante de mim foi a descoberta do tema que iria ser versado pela mesma. É certo que num curso que engloba duas áreas distintas, ainda que extremamente relacionadas, o património e o turismo, várias matérias foram leccionadas, desde aquelas referentes ao património documental, arquitectónico, natural, até às técnicas dos profissionais do turismo, multimédia, entre outras. O leque de opções para um possível tema de dissertação apresentava-se, desta maneira, vasto, situação esta que poderia, simultaneamente, facilitar ou dificultar a minha escolha. Algo estava certo nos meus objectivos: queria desenvolver uma investigação acerca da cidade de Guimarães, de onde sou natural, e mais enquadrada na parte do património, devido a possuir formação académica em investigação de História. Despertada pela curiosidade, resolvi visitar a Ordem Terceira de São Francisco de Guimarães, na busca de resposta para este meu dilema: encontrei-a. Devido à amabilidade com que fui recebida e à imediata disponibilidade do arquivo privado da instituição, e depois de me informar acerca dos documentos guardados no referido arquivo, decidi fazer daquela irmandade o objecto da minha dissertação. Não foi uma decisão inconscientemente rápida pois assegurei-me previamente da viabilidade de desenvolver uma investigação a partir do seu património documental. Sendo a Ordem e seu espólio arquitectónico e artístico – cuja conservação, restauro e divulgação constitui uma das preocupações da instituição – sempre registado nos folhetos e roteiros turísticos de Guimarães, inequivocamente enquadrado no acerco patrimonial vimaranense e um dos mais visitados da cidade, deparei com um arquivo documental riquíssimo praticamente inexplorado, à semelhança do que acontece com outras instituições. Apesar do desaparecimento de muitos documentos ocorrido por ocasião da extinção das ordens religiosas, a Ordem possui ainda uma notável documentação onde está guardada uma série de fontes cujas informações variadas permitem uma vasta investigação académica e científica. Estas dizem respeito a registos de aspectos individuais, colectivos, financeiros e administrativos da actividade da instituição. Esse mesmo acervo de documentos remonta à época medieval, embora de forma incompleta quanto mais longe recuarmos no tempo. Para um período histórico mais recente a informação apresenta-se numa sequência relativamente completa, levando-nos a estabelecer como limites cronológicos do nosso trabalho o ano de 1850 e 1910. Pareceu-nos interessante situar a Ordem num contexto português marcado pelo liberalismo e de que maneira o mesmo condicionou a sua actividade no ambiente citadino até à instauração da República, data que por si só já constituiu a viragem de um período histórico para outro devido às grandes transformações que se operaram no país. No decorrer destes sessenta anos estiveram registados como irmãos quatro mil quinhentos e dois indivíduos de ambos os sexos, levando-nos a pensar que se ultrapassássemos esse âmbito cronológico não levaríamos a bom termo esta investigação dentro dos prazos exigidos, dada a quantidade de elementos informativos registados nos livros para cada terceiro. Uma parte importante deste trabalho diz respeito à caracterização e abordagem social que nos propusemos fazer para cada indivíduo que deu entrada na instituição. A partir dos livros de entradas de irmãos terceiros estudámos aspectos como o estado civil, a ocupação profissional, a idade, a residência, quanto pagava de jóia de admissão, a data da sua tomada de hábito e posterior profissão, quais os cargos que ocupou na administração da instituição, e outros elementos considerados fundamentais pelo secretário que os registou. Alguns destes diziam respeito à presença de títulos nobiliárquicos (num grupo mais restrito de terceiros), relações familiares ou profissionais entre irmãos, situações de co-residência, entre outros. Tendo como ponto de partida os livros de entradas de irmãos para a elaboração de uma base de dados, tornou-se necessário efectuar um cruzamento com outras fontes importantes para a abordagem social que pretendíamos e para prosseguir na descoberta das relações existentes entre os irmãos terceiros. Referimo-nos aos livros de entradas de pupilos e de eleições. Sabendo que umas matérias levam a outras, e depois de obtermos resultados consistentes acerca do razoável equilíbrio entre a presença masculina e a feminina, das actividades profissionais exercidas – perfeitamente enquadradas no quadro profissional citadino - ,dos cargos exercidos dentro da instituição, julgámos imprescindível o conhecimento das regras e princípios que orientavam o conjunto das actuações, procedimentos e rituais dos terceiros vimaranenses. A etapa seguinte passou, assim, pelo estudo de um outro tipo de documentação: os Estatutos – os quais regulamentavam todos os aspectos das actividades da Ordem -, a Regra da Ordem Terceira de São Francisco e os Livros de termos das sessões da Mesa e Junta Magna, órgãos deliberativos e directivos, por excelência, da Ordem Terceira. Trataríamos, assim, das regulamentações e dos elementos de índole jurídica que sustentavam toda a vida administrativa e assistencial da instituição. Através deles ficamos a saber quais eram os objectivos da mesma, como decorria a sua organização e administração, quais as funções e atribuições dos que ocupavam os cargos governativos, como decorria o processo de admissão de terceiros, quem poderia ser admitido e quem seria excluído deste círculo de sociabilidade específico. Uma outra parte considerada de grande relevância no seio desta investigação estende-se ao estudo da actividade interventiva da Ordem Terceira na cidade de Guimarães. De facto, a mesma foi evidente no contexto citadino, bem conhecida e reconhecida pela população, e passava pela vertente assistencial, com a criação de um hospital, de um asilo de entrevados e de uma creche, e pela actividade cultural, através das escolas primárias, das oficinas de ensino profissional e do museu. A componente assistencial e educativa foi crucial para a projecção local da instituição. Novas fontes nos surgiram, desta vez respeitantes aos regulamentos internos originais das várias valências, os quais nos serviram de suporte teórico para o conhecimento dessas vivências As informações nelas contidas foram sempre cruzadas com as dos livros de termos das sessões, os quais eram reflexos da realidade do dia-a-dia e das necessidades e dificuldades passadas. Os livros de termos das sessões da Mesa e Junta Magna permitiram-nos, igualmente, colher informações acerca de uma prática encetada pela Ordem, a qual constituía um motivo para que estranhos e até mesmo irmãos recorressem à mesma com frequência. Referimo-nos à concessão de crédito, muito vulgarizada por esta instituição e por outras irmandades, sobre a qual teceremos, apenas, algumas anotações, dado que a vertente económica e a administração financeira não se enquadram no estudo social e institucional que pretendemos com a presente investigação. Para tornar mais completo o estudo dos aspectos formais e assistenciais da Ordem Terceira, não poderíamos deixar de efectuar uma pequena apresentação da história da ordem franciscana, desprovida de qualquer originalidade, da qual a presente instituição terceira deriva. O surgimento e percurso dos franciscanos em Portugal, a fundação do convento da mesma ordem em Guimarães e o contexto religioso da cidade constituem matérias de grande importância para o enquadramento e estudo específico da Ordem Terceira dentro do país e da região minhota. Para conhecermos a formação da ordem religiosa e da Ordem Terceira recorremos à bibliografia portuguesa sobre tema de índole religiosa e assistencial que, felizmente, vem sendo publicada cada vez em maior quantidade e explora temas até aqui pouco explorados. Ainda assim, apesar do aumento das investigações, existem poucas obras específicas sobre a abordagem social das ordens terceiras, limitando-se quase exclusivamente aos seus elementos institucionais e formais. Nascida num ambiente citadino específico, a Ordem Terceira de São Francisco de Guimarães era, igualmente, possuidora de características próprias. Apesar da sua especificidade, ao nível dos procedimentos e rituais, poderia ser contextualizada numa dimensão mais ampla, a nível regional e nacional. Veremos de que forma esse enquadramento se processou, demonstrando que em muitos aspectos a instituição constituía um reflexo de um todo mais vasto. Sabemos que, para além da assistência aos irmãos e da prática da filantropia, a Ordem Terceira desenvolvia outras actividades de extrema importância para os seus membros e para a visibilidade da instituição na cidade: as festividades religiosas e os serviços fúnebres dos terceiros. Temos consciência da relevância desta matéria para a compreensão da irmandade, porém não pudemos desenvolver a mesma por falta de tempo e para conseguirmos cumprir os prazos impostos para o término desta dissertação. Esperamos que os referidos temas venham a ser tratados num próximo estudo. Através deste empreendimento que nos propusemos efectuar tentaremos caracterizar social e institucionalmente a Ordem Terceira vimaranense num dos períodos áureos da sua existência, pelo rol de actividades assistenciais e culturais que iniciou e desenvolveu no contexto citadino e concelhio, espalhando a sua influência pelas freguesias urbanas, suburbanas e do resto do concelho, e até fora dele. A base de toda esta investigação está assente no seu património documental, o qual não pode ser descurado e “escondido” pelo artístico, o mais visível e apreciado turisticamente. Pretendemos dar a conhecer e “trazer para fora das portas” um rico espólio documental até agora pouquíssimo explorado, o qual poderá vir a ser tão procurado, investigado e reconhecido publicamente como acontece com o seu património artístico.
TipoDissertação de mestrado
DescriçãoDissertação de mestrado em Património e Turismo
URIhttps://hdl.handle.net/1822/25303
AcessoAcesso aberto
Aparece nas coleções:BUM - Dissertações de Mestrado
CECS - Dissertações de mestrado / Master dissertations

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