Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/28592

TítuloUm pé no presente, um olhar no futuro... das bibliotecas...
Autor(es)Ferreira, Miguel
Palavras-chaveBibliotecas
Tecnologia
Open Data
Data27-Mar-2014
EditoraAssociação Portuguesa de Documentação e Informação de Saúde (APDIS)
Resumo(s)Nos dias de hoje, em que uma grande parte da informação do mundo aparenta caber na algibeira do casaco, pode cometer-se o equívoco de se considerar que as bibliotecas se tornaram de certo modo desnecessárias, ultrapassadas, assimiladas pelo avanço da onda digital. Porém, e apesar das ameaças que aparentemente a tecnologia representa para as bibliotecas, estas continuam a ser inabaláveis pilares na nossa sociedade, tendo vindo a adaptar-se com enorme rapidez a todos os desafios que a tecnologia lhes tem vindo a oferecer. As bibliotecas são das poucas organizações que gozam de uma reputação inabalável. Não há quem ouse reprovar a sua existência, incluindo aqueles que raramente as frequentam. Todos as veem como estruturas vitais da nossa comunidade que deverão ser mantidas a todo o custo. Ao longo dos tempos, as bibliotecas têm vindo a reinventar-se, a adaptar-se às tendências e às necessidades dos seus utilizadores. A tecnologia tem vindo a mudar a uma velocidade vertiginosa - vejamos a substituição do vinil pela cassete, que por sua vez foi substituída pelo CD e este pelos MP3 e o download de música, isto no espaço de tempo de uma geração – e as bibliotecas exemplarmente têm sido capazes de se adaptar a todas estas novas realidades. Similarmente, a venda de livros eletrónicos não para de aumentar e com o aparecimento de novas e melhores tecnologias de visualização, a preços cada vez mais reduzidos, não será difícil de imaginar um futuro em que os livros em formato impresso serão absolutas raridades. Com o aparecimento do digital, chegou a desmaterialização. Em 2013, em San Antonio, Texas, foi inaugurada a primeira biblioteca do mundo sem livros, a BiblioTech. Nesta biblioteca pode assistir-se a corredores carregados de computadores e tablets à disposição de todos aqueles que desejem aceder aos conteúdos da biblioteca. Esta, assemelha-se mais a uma Apple Store do que a uma biblioteca. A maior diferença entre ambas reside no facto de este espaço não se situar na avenida principal da cidade, mas num bairro carenciado onde os índices de literacia foram considerados alarmantemente baixos. No domínio da gestão de informação, ponto de honra para qualquer biblioteca, temos de admitir que a tecnologia veio facilitar imenso o trabalho dos profissionais. Os resultados do processo de catalogação realizado por outras bibliotecas encontra-se à distância de um clique, sendo possível integrar estes resultados no nosso próprio catálogo com pouco ou nenhum esforço. Não obstante, a tecnologia de pesquisa, tal como a conhecemos hoje, está ainda na sua infância. Relembro que ainda há menos de 15 anos não era possível pesquisar por imagens. Hoje podemos pesquisar por cor, tipo de imagem, conteúdo e até por imagens semelhantes. Em breve será possível pesquisar por paladar, cheiro, textura, peso, tom, velocidade, volume, etc. Num mundo indiscutivelmente globalizado, as bibliotecas passaram a competir com bibliotecas de todo o lado do mundo. A Biblioteca Municipal de Constância, por exemplo, já não serve apenas os habitantes da carismática vila situada junto ao Tejo, mas sim todos os leitores do mundo, lado a lado com a British Library, a Biblioteca do Congresso, ou a Biblioteca Nacional da Áustria. A presença na Web tornou-se, assim, fundamental, e os serviços disponibilizados aos utentes, cada vez mais diversificados. Os leitores deixaram de se deslocar à biblioteca para renovar os seus empréstimos, podendo fazê-lo a partir de qualquer ponto geográfico com acesso à Internet. Isto libertou-os a ponto de estes terem deixado de ser meros consumidores de literatura para passarem a ser contribuidores ativos no próprio processo de catalogação, fornecendo mais e melhores termos de indexação, tecendo comentários e recomendando obras a todos aqueles que visitam o espaço Web da biblioteca. Os utentes são agora elementos ativos e participativos no processo de edificação de novos serviços, ajudando a moldar o presente e o futuro da biblioteca. O mundo encontra-se neste momento num ponto de viragem em que passamos de uma economia centrada no produto para uma economia voltada para as experiências. O consumidor de hoje não vai jantar a um restaurante meramente para ingerir alimentos, vai a um restaurante para poder viajar sem sair da sua cidade. A questão que se impõe é, que conjunto de experiências é que a nossa biblioteca atualmente oferece e como é que podemos aumentar e melhorar o conjunto de serviços prestados, sabendo de antemão que temos necessariamente de o fazer com cada vez menos recursos financeiros e humanos? Uma ideia que surge imediatamente é a automatização das bibliotecas, i.e. a introdução de máquinas ou robots (se preferirem) que libertem os bibliotecários de tarefas operacionais para que estes possam ser agentes dinamizadores de experiências. Sistemas de auto-empréstimo, sistemas de devolução automática, catálogos em linha com capacidade de descarregar versões digitais dos conteúdos são apenas alguns exemplos de tecnologias já existentes e que podem ser implementadas a um custo relativamente reduzido. A distribuição dos processos administrativos associados à gestão de informação é outra via que poderá auxiliar neste processo de libertação de recursos. Processos de auto-depósito em que o autor da obra é responsável por fornecer a informação necessária à inventariação da mesma é algo que já se realiza abundantemente nas bibliotecas centradas na disseminação e preservação de informação científica, tipicamente em formato digital. Outras formas de captar receita para uma biblioteca poderiam passar pela partilha de rendimentos com agentes do mundo privado. É possível que esta ideia choque de frente com todos os princípios de isenção e independência associados ao bem público, porém, numa era em que se planeia festejos do 25 de abril com a possibilidade de patrocínio por parte de empresas com fins comerciais, temos de admitir que há poucos princípios que ainda se mantêm de pé. Neste contexto deixo apenas duas ideias, serviços de impressão a-pedido, permitindo ao leitor solicitar a impressão e expedição de obras para o conforto do seu domicílio, e parcerias com editoras com lugar a partilha de receita sempre que um cliente for encaminhado pela biblioteca. A biblioteca como espaço físico terá necessariamente de evoluir, deixando de ser primordialmente um lugar de preservação da memória para se transformar num lugar onde se podem viver experiências. Deixo alguns exemplos de serviços que fazem todo o sentido serem oferecidos por uma qualquer biblioteca pública atual: • Salas de ensaio para bandas de música • Estações de rádio amador • Oficinas de arte • Estúdios de gravação e edição de áudio e vídeo • Espaços criativos e de estímulo à imaginação • Salas de ensaio para grupos de teatro amador • Realização de eventos culturais de toda a natureza, como concertos, apresentação de livros, realização de peças de teatro, formações, workshops, conferências, exposições, etc. Cabe às bibliotecas questionar o seu público, aferir as suas necessidades e desenvolver capacidades no sentido de oferecer os serviços desejados. Não obstante, as bibliotecas não deverão demitir-se da sua missão fundamental de serem depósitos da cultura local, espaços em que a memória é preservada e projetada para o futuro. Neste domínio, a Biblioteca do Congresso não tem qualquer chance de competir com a Biblioteca Municipal de Constância, pois é esta a que melhor conhece a sua população local. Focando-nos no domínio das bibliotecas científicas, nas quais as bibliotecas hospitalares obviamente se inserem, começa a emergir um movimento que irá revolucionar a forma de fazer ciência para sempre. Trata-se de uma iniciativa promovida por Tim Berners-Lee, o precursor da World Wide Web, que visa a disponibilização em acesso-aberto de dados, especialmente dados científicos. Esta iniciativa permite que os computadores e os seus algoritmos sejam capazes de compreender os dados e a partir destes extrair conhecimento derivado das relações existentes entre os vários conceitos representados. A iniciativa, designada genericamente por Open Data, estabelece um sistema mérito baseado em estrelas para classificar o nível de adequação dos dados aos objetivos da iniciativa. No nível 1 encontra-se a simples publicação de dados, independentemente do seu formato. Os dados publicados vão adquirindo mais estrelas à medida que estes se vão tornando mais estruturados, mais abertos e mais acessíveis. Para obter as desejadas 5 estrelas é necessário que os nossos dados estejam relacionados com outros dados, também estes publicados em acesso-aberto, permitindo deste modo inferir conhecimento a partir das relações estabelecidas. Neste contexto entra em ação um novo paradigma designado por computação de alto-desempenho (do inglês High Performance Computing ou HPC). Tratam-se de sistemas computacionais compostos por dezenas, centenas ou milhares de computadores capazes de trabalhar em conjunto para resolver um problema específico. Neste contexto, as áreas científicas como a Medicina, as Ciências da vida ou a Física encontram-se numa posição privilegiada para tirar partido destas tecnologias. Projetos como o Human Genome Project, que teve como objetivo a sequenciação do DNA humano, ou o mais recente Human Brain Project que visa simular o funcionamento do cérebro humano, foram e são fortemente suportados por este tipo de sistemas. A Comissão Europeia rapidamente percebeu a importância deste tipo de infraestruturas e reservou uma fatia considerável do orçamento destinado à investigação no âmbito do programa Horizon 2020 para reforçar o desenvolvimento deste tipo de sistemas e serviços associados. As bibliotecas científicas são vitais neste domínio, pois cabe-lhes o trabalho de preparação, formação, curadoria e disseminação dos dados que resultem de trabalhos de investigação científica. Deste modo, estas organizações voltam novamente a reafirmar-se como agentes fundamentais do processo de comunicação científica, adaptando-se e transfigurando-se à medida das necessidades e ao sabor dos tempos.
TipoComunicação oral
URIhttps://hdl.handle.net/1822/28592
Arbitragem científicano
AcessoAcesso aberto
Aparece nas coleções:KEEPS - Comunicações

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