Comunicação e sociedade: A rádio na frequência da Web [20, 2011]

Abstract

Ao longo da sua história, a rádio tem passado por constantes transformações. Talvez por esta razão se compreenda que ela tenha sobrevivido aos desafios dos novos media, tirando partido dos avanços tecnológicos e tendo-se aparentemente adaptado aos novos 'modos de ouvir'. No entanto, o futuro da rádio, um pouco como o de todos os media clássicos, é encarado com algumas reservas, dada a sua eventual fragilidade diante dos meios de natureza visual. Na verdade, embora do ponto de vista tecnológico mantenha uma certa versatilidade, a rádio enfrenta agora os requisitos da conversão aos reptos da cibercultura em que se inscreve. Com efeito, reconfigurando as noções de tempo e espaço e abrindo à interacção, a Internet e a possibilidade de audio-on-demand estão, por um lado, a dispersar as práticas das audiências e, por outro, a impor a reconfiguração das próprias narrativas sonoras como performances discursivas que consistem em contar um acontecimento ou uma série de acontecimentos. Meio quente, no dizer de McLuhan, a rádio motivou sempre apreciações inflamadas por parte dos profissionais, mas é ainda uma espécie de parente pobre dos estudos dos media. Ora, o objectivo deste número da revista Comunicação e Sociedade é em certo sentido reconhecer a rádio como um meio ainda relevante na construção do imaginário contemporâneo, a partir de reflexões como: o lugar da rádio, enquanto meio não-visual, no contexto de uma civilização de vocação imagética; o papel da rádio na construção do imaginário e da identidade; a complementaridade entre a rádio hertziana e a rádio na Web; os imperativos do mercado e as políticas económicas no sector da rádio; a fragmentação das audiências e as transformações no consumo de rádio; o audio-on-demand e as novas práticas discursivas não-lineares; géneros radiofónicos e o poder criativo do som (na informação, no entretenimento, na publicidade); a rádio e os estímulos de cidadania; o papel da interactividade na manutenção da relevância do meio rádio.

Throughout its history, radio has been constantly facing several challenges. This is probably the most suitable explanation to understand why radio has always survived to countless threats. It is now widely reported that radio has developed very demanding efforts to follow technological shifts, in what some authors have described as 'new contracts of listening'. The future of radio has been a major concerning among broadcasters, producers and researchers, some claiming that this visual culture, where video, screens and television tend to mobilize wider audiences, is here to overcome the role of sound and audio productions. Radio has thus learned that Internet and audio-demand should be an indispensable part of its daily routine, in order to follow tendencies among listeners. Notwithstanding this new digital panorama, radio is still the hot media, as put forward by McLuhan, enhancing emotions and mental images, more than other media. In this issue, we intend to discuss some of these topics, having in mind the potential of radio in the contemporary imaginary. Hence, these articles reflect on subjects, such as: radio as a non-visual media in a context of a permanent visual culture; radio as a fundamental key to promote identity and foster our imaginary and belonging; how tradicional/FM radio is now being connected with internet radio and online productions in this media; how market is now determining new policies within radio broadcastings; radio genres and the creative role of audio, in information, entertainment, advertisement; radio and citizenship; radio and its interaction with audiences.