Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/38449

TítuloThe greener grass: da autorrepresentação em Alanis Morissette
Autor(es)Martins, Diogo André Barbosa
Orientador(es)Ribeiro, Eunice
Pereira, Margarida Esteves
Data11-Set-2015
Resumo(s)The greener grass: da autorrepresentação em Alanis Morissette constitui um trabalho de investigação centrado nas canções da artista canadiana, com o objetivo de explorar possíveis trajetos hermenêuticos abertos pela autorrepresentação contemporânea (nomeadamente, no domínio difuso da pop culture, ainda razoavelmente marginal aos estudos académicos e à teorização literária e/ou humanística), questionando as linguagens, os contactos transdisciplinares e os subtextos ideológicos em que esse âmago autorrepresentacional se move, se descentra e, simultaneamente, se obscurece e se visibiliza. Sendo as lyrics morissetteanas reconhecidas pela sua exacerbada filiação autobiográfica, importa questionar de que maneiras consegue o self realizar-se minimamente na e pela escrita de caráter íntimo, quando o que melhor caracteriza a intimidade é, em termos agambenianos, a sua pura singularidade como experiência e, portanto, o facto de ser absolutamente intraduzível ou irrepresentável. A tensão intrínseca ao acontecer autobiográfico (entre verdade textual e verdade empírica; o apelo a uma entidade física ou paratextual que assina o texto) diz mais sobre o ruído e a inquietação despertados por um género considerado menor (a autobiografia), num contexto atual cada vez mais dominado por tecnologias de exacerbamento mediático e eretismo narcísico, do que sobre as condições liminares, materiais e imateriais, que desenham e consubstanciam as diferentes realizações sob o signo da autorrepresentação (como o diário e o autorretrato, entre outros). A questão é, assim, não tanto o porquê de se escolher as canções, os vídeos e as performances morissetteanas como foco de atenção académica, mas como é que essas canções, vídeos e performances manejam o seu intuito autorrepresentacional: por outras palavras, como é que a artista recupera uma tradição de longa data (com cânones estabelecidos numa cultura forte, como é a cultura escrita, que inclui autores como Plutarco, Santo Agostinho e Montaigne) e a transforma, singularizando-a, repetindo-a sem cristalizar numa anamnese do mesmo mas, pelo contrário, inscrevendo um sentido e uma fenomenologia reconhecíveis como os da sua voz, do seu estilo técnico-compositivo e da sua presença em palco. Alanis Morissette designa cada um dos seus álbuns como uma snapshot, uma espécie de instantâneo fotográfico. A designação, longe de esgotar a sua heurística num uso meramente circunstancial, determina algumas das condições da própria matéria verbal constitutiva das suas lyrics: por um lado, a interseção entre imagem e música (dado que a promoção comercial depende, em boa parte, dos videoclipes e da medialidade que estes ajudaram a fundar); por outro, a um nível semiótico mais profundo (infra-semiótico ou até trans-semiótico), o instantâneo ilumina certas modalidades expressivas que fazem de Alanis uma artista sui generis no caos mediático das sensologias musicais contemporâneas. A força do instante prende-se menos com a captura de um momento (como se a fotografia pudesse, miticamente, preservar um fragmento do tempo) do que com a efervescência de uma intensidade, uma sensação desafetada de uma consciência soberana (um sujeito histórico, delineado por coordenadas personológicas) e, por isso, emergindo na sua qualidade de energia em bruto. Uma parte considerável das canções em estudo gravita em torno desta pulsão préindividual da instantaneidade, que se manifesta no despojamento de uma intenção figurativa-narrativa (que seria a imagem mais prototípica da digressão autobiográfica), ao dispor as letras das canções como listas (o estilo morissetteano): repetindo serialmente padrões rítmicos e construções anafóricas, a lista abre-se a uma dispersão do eu, uma sensação de vertigem, ampliando os seus limites fenomenológicos e fazendo do eu um ser entre outros, uma coisa entre outras coisas, sem rígidos posicionamentos e limites ontológicos (que estariam filiados ao humanismo como ideologia). Alie-se a estas tópicos a implicada performatividade das canções: o facto de constituírem textos deflagrados em palco, com o corpo in actu, realizando gestos e movimentos irrepetíveis inseparáveis da epifania do acontecer musical. A artista em estudo, longe de reivindicar um vedetismo presencial (que seria expectável, em certa medida, por integrar um contexto mainstream), atua segundo um modo próprio de traçar o seu plano de imanência (em sentido deleuziano): um devir-impercetível ou, segundo a própria, uma transparência, inseparavelmente artística e existencial, em nome da qual lyrics e performances se consagram na responsabilidade (poiética e política) de inscrever no real a positividade agenciadora da nossa condição vulnerável. Neste sentido, a partir das suas canções, pretende-se atualizar o conceito de identidade e compreender de que formas esse conceito se pode materializar e imaterializar para se inscrever no mundo, sem sucumbir a uma crescente e radical pulverização esquizofrénica (ao sabor do espírito da globalização) nem a estratégias redutoras de fixação e enquistamento hegemónicos. A autorrepresentação em Alanis Morissette testa os próprios limites da autorrepresentação, no sentido de salvaguardar uma ética do ser, anterior a toda e qualquer forma de modelização artística (ou estética, em geral).
The greener grass: on self-representation by Alanis Morissette is a PhD thesis focused on the Canadian artist’s songs, in order to explore possible hermeneutic paths opened up by contemporary self-representation (mainly in the elusive field of pop culture, still reasonably marginal to academic studies and literary or humanistic criticism), questioning the languages, transdisciplinary contacts and ideological subtexts responsible for the ways whereby self-representation de-centers itself, and makes itself simultaneously obscure and visible. Since Alanis Morissette’s lyrics are known for their explicit autobiographical tone, we aim to question how the self can, at least, feel accomplished by writing in an intimate mode, if intimacy, in Giorgio Agamben’s terms, is defined by its pure singularity as a form of experience, thereby being absolutely untranslatable or irrepresentable. The intrinsic tension in the autobiographical happening (between textual truth and empirical truth, calling on a physical or paratextual entity to sign the text) clarifies the hesitation towards a so-called minor genre (autobiography), perceived in the middle of modern-day narcissistic indulgence (which is reinforced by current media technologies), but does not question the basic conditions, both material and immaterial, that shape the form and the content of all different kinds of self-representational modes (including journaling and self-portrait). The main topic, then, is not exactly why we chose Morissette’s songs, videos and performances as a platform for academic scrutiny, but how these materials manage their self-representation purpose: in other words, how the artist restores an old written tradition (established by canonic authors such as Plutarch, Saint Augustine and Montaigne) and transforms it, making it hers, inscribing a new sense and a new phenomenology through her voice, her technical-compositional style and her stage presence. Alanis Morissette perceives her musical writing as an ensemble of snapshots, like candid pictures. This definition points to some of the verbal material of her lyrics: on the one hand, the intertwining between image and music; on the other hand, in a deeper semiotic level (infra-semiotic or even trans-semiotic), the concept of snapshots involves some expressive details responsible for turning Morissette into a special performer in the current chaotic musical context. The instant’s force is less the capture of a precise moment (as if, with mythical undertones, a picture could restore a fragment of time) and more the intensity’s absolute effervescence, a free sensation without a vigilant conscience (an historical subject, determined by its personal qualities), like a pure energetic rapture. A significant part of Morissette’s songs corroborate a kind of preindividual drive of instantaneity, freeing away from a figurative-narrative intention (which would be more suitable for autobiographical expectations) through lyrics that act as lists (the artist’s style): by repeating serially rhythmic patterns and anaphoric constructions, the list invites the self to a sense of dispersal and vertigo, amplifying its phenomenological limits and turning it into something amid other beings or things, without rigid ontological demarcations (which would be affiliated to a concept of humanism defined by ideological tones). These criteria cannot be insulated from the songs’ inner performativity: songs come to live when performed on stage, with a body in actu, through unrepeatable movements and gestures that permeate musical epiphany as such. Instead of claiming a sort of aural presence as a musical diva or public entertainer, Alanis Morissette acts unpretentiously on stage, following a self-absorbed path that leads to her plane of immanence (in Deleuze’s sense): this relates to the ethics of becoming-imperceptible or, according to Morissette, a transparency, both inextricably artistic and existential, on behalf of which both lyrics and performances act as a medium (poietic and political) to inscribe the positivity of our vulnerable human condition in the realm of real sensibilities. Thus, by paying attention to her songs, we aim to reconfigure the concept of identity and understand how it can be both materialized and immaterialized, in order to conquer a sense of real inscription, escaping from the radical all-encompassing wave of schizophrenic pulverization and displacement (inspired by the spirit of globalization) and the radical reductive strategies of fixation, reification and hegemonic formations. Alanis Morissette’s self-representation tests the limits of self-representation as such, on behalf of an ethics of being, anterior to any form of artistic (or, on the whole, aesthetic) modelization.
TipoTese de doutoramento
DescriçãoTese de Doutoramento em Ciências da Literatura - Especialidade em Teoria da Literatura
URIhttps://hdl.handle.net/1822/38449
AcessoAcesso aberto
Aparece nas coleções:BUM - Teses de Doutoramento
CEHUM - Teses de Doutoramento
ELACH - Teses de doutoramento

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato 
Diogo André Barbosa Martins.pdf11,3 MBAdobe PDFVer/Abrir

Partilhe no FacebookPartilhe no TwitterPartilhe no DeliciousPartilhe no LinkedInPartilhe no DiggAdicionar ao Google BookmarksPartilhe no MySpacePartilhe no Orkut
Exporte no formato BibTex mendeley Exporte no formato Endnote Adicione ao seu ORCID