World-class universities? A dimensão social na mobilidade internacional de estudantes

Abstract

O objetivo deste texto é refletir sobre o conceito de world-class universities. Embora não exista na literatura acadêmica uma definição amplamente aceite do conceito de worldclass universities, ele é aqui adotado para designar as instituições no topo dos rankings internacionais em determinadas áreas do conhecimento (embora esse critério mereça, noutra oportunidade, ser criticamente discutido). Tudo indica que a intensificação dos processos de globalização que atingem as universidades em todo o mundo está a moldar muitas delas para um perfil altamente seletivo e competitivo, como sugere a designação classe mundial. Para a análise deste complexo cenário de mudanças na educação superior, convocamos o conceito de campo de Pierre Bourdieu e alguns pressupostos pós-coloniais/descoloniais para perceber como a hegemonia eurocêntrica está a se reconfigurar numa época de maior circulação de estudantes de diferentes culturas, ideias e visões de mundo. Os mecanismos que fomentam a competitividade institucional por estudantes internacionais implicam novos desafios para o avanço da dimensão social na educação superior, em diferentes regiões do mundo, sejam mais centrais ou mais periféricas em relação às grandes economias do conhecimento. Dados estatísticos sobre os rankings mundiais dessas universidades corroboram a análise de autores internacionais de que as world-class universities são também aquelas que possuem o inglês como língua materna, estão situadas no Norte Ocidental e se inserem em economias avançadas, perspetiva que compromete, em última análise, a dimensão social (e a igualdade de oportunidades) da mobilidade internacional a partir do Sul Global, como é o caso, aqui considerado, dos estudantes brasileiros.

The purpose of this paper is to reflect on the concept of world-class universities. Although there is no widely accepted definition of world-class universities in the academic literature, it is here adopted to designate institutions at the top of international rankings in certain areas of knowledge (although this criterion deserves to be critically discussed). It seems that the intensification of globalization processes affecting universities around the world is shaping many of them into a highly selective and competitive profile, as the world-class designation suggests. For the analysis of this complex scenario of changes in higher education, we call upon the conceptual field of Pierre Bourdieu and some postcolonial assumptions to understand how Eurocentric hegemony is being reconfigured in an era of greater circulation of students from different cultures, ideas and visions of the world. The mechanisms that foster institutional competitiveness by international students imply new global challenges for the advancement of the social dimension in higher education in different regions of the world, either more central or more peripheral to the major knowledge economies. Statistical data on the world rankings of these universities corroborate the analysis of international authors that the worldclass universities are also those who have English as their mother language, are located in the North-Western Global and are inserted in advanced economies. This is a conclusion that, in a final analysis, perspires the social dimension (and equal opportunities) of international mobility from the Global South, as in the case, here considered, of Brazilian students.