Para além de cetins e damascos em seda: indumentária dos pobres durante o período barroco em Portugal

Abstract

Apesar da roupa ser uma necessidade básica do ser humano e condicionar fortemente a performance do corpo, o estudo histórico das práticas de indumentária recebeu, ao longo das últimas seis décadas, atenção pontual por parte dos investigadores portugueses. A historiografia europeia produziu trabalhos importantes que permitiram desvendar como se vestiam as pessoas durante o período moderno e enquadrar essas práticas em contextos mais abrangentes, nomeadamente de natureza simbólica, política, cultural e económica. Estes avanços historiográficos trataram de forma diferida os diferentes grupos sociais que protagonizavam a sociedade barroca, pois tem-se privilegiado o estudo dos grupos dominantes (elites e espaços cortesãos) em detrimento dos estratos inferiores (pobres ou camadas populares). O contexto português não é, por isso, uma realidade distinta das historiografias de língua espanhola, francesa, italiana ou inglesa; as principais obras de síntese publicadas em Portugal reproduzem uma dupla tendência: os poucos trabalhos existentes compreendem os grupos privilegiados; e, por outro lado, as obras de síntese ou simplesmente não contemplam análises sobre a indumentária ou abordam-na de forma sucinta.