Segregação sócio-espacial em contexto urbano. Um estudo comparativo entre Braga-Portugal e Aracaju-Brasil

Abstract

Face ao contexto actual de urbanização acelerada, são vários os desafios que se colocam ao desenvolvimento das cidades contemporâneas, de entre os quais aqueles que se relacionam com a urgência de novas políticas de gestão urbana, capazes de promover um urbanismo inclusivo que contribua para o surgimento de cidades socialmente mais coesas, integradas e justas. Assim, importa reforçar o conhecimento existente em torno das dinâmicas urbanas de segregação sócio espacial. Este trabalho contribui para esta reflexão a partir de uma investigação que se singulariza por uma abordagem comparativa desenvolvida a dois níveis. Por um lado, trata-se de um estudo de geografia urbana que privilegia a comparação entre duas cidades (Braga em Portugal e Aracaju no Brasil), que embora se enquadrem em países diferentes e com culturas e realidades sócio econômicas específicas, enfrentam ambas processos de segregação sócio-espacial no interior das suas malhas urbanas. Por outro lado, trata-se de um estudo que confronta simultaneamente a análise de dinâmicas espaciais distintas, quer a concentração de cidadãos de baixo nível sócio económico (segregação imposta), quer a realidade oposta onde a homogeneidade sócio económica de algumas bolsas territoriais se faz sentir pela presença exclusiva de cidadãos de altos rendimentos (auto-segregação). Ao nível do quadro analítico-metodológico, este estudo procura elevar a compreensão em torno da segregação sócio-espacial a partir da visão de quem habita esses território e sente quotidianamente os seus efeitos. Para isso privilegiou-se o cruzamento de uma abordagem quantitativa baseada em inquéritos aplicados a uma amostra de residentes em contextos de segregação imposta (Bairro das Andorinhas em Braga e Bairro da Invasão de São Conrado em Aracaju); com um abordagem de cunho qualitativo baseada em entrevistas de profundidade a moradores em contextos de auto-segregação (Encosta do Bom Jesus em Braga e Bairro Jardins em Aracaju). Os resultados indiciam que o planeamento urbano nem sempre contribui para minimizar a segregação sócio-espacial. Curiosamente nos casos em que a segregação representa uma preferência dos seus moradores parecem detectar-se mais dificuldades na criação de um sentido de comunidade, sendo este mais forte nos contextos em que a segregação resulta mais de uma imposição do que de uma opção.

In the current context of intense urbanization, there are several challenges to the development of contemporary cities, including those related to the urgency of new urban management policies, capable of promoting an inclusive urbanism that contributes for the emergence of more socially cohesive and integrated cities. Thus, it is important to reinforce the existing knowledge about the urban dynamics of socio-spatial segregation. This study contributes to this major goal with a research based in a comparative approach that is developped on two levels. On the one hand, it is a study of urban geography that favors the comparision between two cities (Braga in Portugal na Aracaju in Brazil), which although they fit in different countries and with specific cultures and socio economic realities, both face processes os socio-spatial segregation within their borders. On the other hand, this is a study that simultaneously confronts the analysis of distinct spatial dynamics, both the concentration of citizens of low socioeconomic status (imposed segregation) and the opposite reality where the socio-economic homogeneity of some city areas is characterized by the exclusive presence of high income citizens (self-segregation). Regarding the analytical methodological framework, this study seeks to raise the understanding about socio-spatial segregation from the view of those who daily feel their effects in their residential neighborhoods. To to this it was privileged the crossing of a quantitative approach based on surveys applied to a sample of inhabitants in contexts of imposed segregation (Bairro das Andorinhas in Braga and Bairro da Invasão de São Conrado in Aracaju); with a more qualitative approach based on in-depth interviews with inhabitants of self-segregating contexts (Encosta do Bom Jesus in Braga and Bairro Jardins in Aracaju). The results achieved indicate that urban planning does not always contribute to minimize socio-spatial segregation. Curiously, where segregation represents a preference for its residents, it seems more difficult to create a sense of community, which seems to be stronger in contexts where segregation results more from an imposition than from a personal option.