Uma visão socio-semiótica do espontâneo no fotojornalismo político

Abstract

O objeto desta tese pode ser encontrado em publicações noticiosas que tratam de política e veiculam fotografias que acompanham as suas reportagens, seja para ilustrar ou ampliar a informação. O espontâneo, também denominado de foto única, é o alvo de um olhar interdisciplinar neste estudo, para identificar e analisar os fenómenos que envolvem a publicação de figurações de corpo de autoridades políticas publicadas na imprensa. A informação contida numa fotografia de uma personagem, registada com o corpo em movimento ou com uma expressão emotiva na face, é o que justifica a sua publicação num veículo noticioso. O flagrante fotográfico, que na sua origem era resultado da técnica e da perícia do fotógrafo, tornou o espontâneo a base conceitual dos géneros factuais do fotojornalismo. Um estilo de fotografia que reivindicou para si a quebra da pose e da encenação e, ao longo do tempo, criou um discurso de credibilidade e objetividade. Esse discurso estabeleceu, no senso comum, a ideia de que o corpo do retratado é o único responsável e justifica ser publicado daquela forma. A pergunta inicial que moveu esta tese visava perceber se as figurações de corpo do espontâneo, em situações fora da normalidade estética, se constituíam como elementos editoriais do fotojornalismo, capazes de alterar uma notícia. A nossa intuição era a de que o corpo e o rosto se constituíam em elementos de fácil manipulação editorial pela existência do discurso do espontâneo e que a fotografia desfigurada conseguia modificar o contexto noticioso. Esta ideia foi confirmada, através de um estudo empírico qualitativo que evidenciou a existência de tipos de fotografias nas quais os retratados foram flagrados em estados emocionais exagerados ou em posturas disformes, utilizadas fora do contexto, capazes de alterar uma notícia política pela ambiguidade emocional que suscitam. Nesta análise das fotografias de não-pose, foi possível identificar e descrever a existência das particularidades dos elementos emocionais dos espontâneos, pois comparando-os, conseguimos diferenciá-los em detalhes. Apresentou-se, então, a identificação de seis elementos que são relevantes para compreender os mecanismos que acionam processos de decodificação do espontâneo: a visualidade do corpo-imagem; o poder associado à pose; o invisível revelado pela máquina fotográfica; a fruição estética da desfiguração; a decodificação neurofisiológica das micro expressões e gestos humanos; a função sócionormativa regulatória das emoções. Os resultados obtidos com esta tese têm o intuito de ser um contributo para o aprofundamento teórico sobre os processos editoriais da fotografia de imprensa, os processos de visualidade do corpo de uma autoridade e os estudos relativos ao campo da cultura visual.

The object of this thesis is to be found in news publications that deal with politics and present reports accompanied by photographs, either to illustrate or expand the information. The spontaneous, also called single photo or candid photograph, is the focus of an interdisciplinary observation in this study, by identifying and analyzing the complex phenomena of publishing body figures of political authorities in the press. The information contained in the photograph of a personality, captured with the body in motion or with an emotional expression on the face, is very often what justifies its publication in a news outlet. The candid photograph, which in its origin was the result of the photographer's technique and expertise, made spontaneity the conceptual basis of the factual genres of photojournalism. A style of photography that claimed to break the pose and staging and, over time, created a discourse of credibility and objectivity. This discourse has imposed a commonly accepted reading on the exclusive responsibility of individuals for their bodies, hence providing ample justification for public publication. The departure point for this wark was the necessity to understand whether the body figures of the spontaneous, in situations beyond aesthetic normality, constituted themselves as editorial elements of photojournalism, capable of altering a news story. The existence of the above-mentioned spontaneity construct directed our intuition towards the notion that the body and the face were elements prone to editorial manipulation, and also towards the ideia that the disfigured photograph managed to modify the news context. A qualitative empirical study showed that the existence of types of photographs in which those portrayed were caught in exaggerated emotional states or in deformed postures were, when used out of context, capable of altering the framing of political news due to their emotional ambiguity. In this analysis of non-posed photographs, it was possible to identify and describe the particularities of the emotional elements of the spontaneous ones; by comparation we were able to differentiate them in detail. We have identified six elements that are relevant to understand the mechanisms that trigger spontaneous decoding processes: the visuality of the body-image; the power associated with the pose; the invisible revealed by the camera; the aesthetic enjoyment of disfigurement; the neurophysiological decoding of human micro expressions and gestures; the regulatory function of the emotions. The results obtained with this thesis are intended to be a contribution to the theoretical reading of the editorial processes of press photography, the processes of visuality of the body of known figures, and studies related to the field of visual culture.