Dificuldades na aprendizagem da leitura. Caracterização, prevalência e avaliação da eficácia de um programa de intervenção

Abstract

As dificuldades na aprendizagem da leitura (DAL) constituem um dos principais motivos para a retenção dos alunos numa fase inicial do percurso escolar. A identificação e a intervenção atempadas assumem-se como fatores essenciais para colmatar estas dificuldades e reduzir a taxa de retenções. Apesar da vasta investigação que tem sido produzida nas últimas décadas, este campo de investigação mantém-se relevante e atual no panorama nacional e internacional. É neste âmbito específico que se enquadra a presente investigação. Pretendeu-se, assim, caracterizar o perfil de dificuldades dos alunos do 1.º ano de escolaridade e construir, implementar e avaliar os efeitos de um programa de intervenção na leitura. Estes objetivos orientaram a realização de dois estudos empíricos. No primeiro estudo pretendeu-se determinar a prevalência e o perfil de dificuldades dos alunos do 1.º ano, bem como analisar as mudanças de desempenho ao longo deste ano de escolaridade. Recorreu-se a um questionário dirigido a 124 professores, para analisar o desempenho de 1806 alunos do 1.º ano. Os dados foram recolhidos em três momentos do ano letivo. Os resultados obtidos apontaram para: i) uma taxa de prevalência de dificuldades variável em função da competência em análise e do momento de avaliação (entre 4.3% e 14.7%); ii) um perfil de dificuldades heterogéneo; iii) a manutenção das posições relativas dos alunos no seio do grupo nos três momentos de avaliação. No segundo estudo procurou-se avaliar os efeitos do programa de intervenção “Ouvir, Falar, Ler e Escrever” nas competências de leitura e de escrita dos alunos do 2.º ano com DAL. Recorreu-se a um design de investigação com um grupo experimental (n = 27, com DAL, sujeito à intervenção), um grupo de controlo (n = 27, com DAL, sem intervenção adicional) e um grupo de comparação (n = 30, sem DAL), com pré e pós teste. Os resultados obtidos sugeriram uma evolução equivalente entre o grupo experimental e o grupo de controlo entre os dois momentos de avaliação nas competências analisadas. Apesar dos progressos observados, estes grupos não atingiram o desempenho dos alunos sem dificuldades. Verificou-se, ainda, uma elevada heterogeneidade na resposta à intervenção. Os resultados obtidos são discutidos na presente tese e são apresentadas algumas reflexões em torno da identificação e da intervenção nas DAL, bem como acerca da estabilidade destas dificuldades, procurando analisar as implicações para a investigação e para a prática educacional. São, ainda, identificadas algumas limitações dos estudos realizados que suscitaram novas questões de investigação.

Reading difficulties (RD) are among the main reasons for the retention of students at an early stage of school. Timely identification and intervention are critical factors to overcome these difficulties and reduce the retention rate. Despite the vast research that has been produced in the last decades, this field remains relevant and current on the national and international scene. This research is framed in this scope. It is intended, therefore, to characterize the profile of difficulties of students in the first-grade and to construct, implement and evaluate the effects of an intervention program on reading. These goals guided the two empirical studies. The first study investigates the prevalence and the profile of first-grade students’ difficulties and analyzes changes in performance throughout this grade. A questionnaire addressed to 124 teachers was used to analyze the performance of 1806 first-grade students. Data were collected at three moments in the school year. Results indicated: i) a prevalence rate variable depending on the competence and the assessment moment (between 4.3% and 14.7%); ii) a heterogeneous profile of difficulties; iii) a preserve of the students' positions in the group in the three assessment moments. The second study evaluates the effects of the intervention program “Ouvir, Falar, Ler e Escrever” on the reading and writing skills of second-grade students with RD. The design included an experimental group (n = 27, with RD, received intervention), a control group (n = 27, with RD, without additional intervention) and a comparison group (n = 30, without RD), with a pre-test and a post-test. The results show equivalent progress among the experimental and control groups group between the two moments of evaluation in the assessed skills. Despite the progress observed, these groups did not achieve the performance of students without difficulties. There was also a high heterogeneity in response to the intervention. Results are discussed and some considerations about identification and intervention in RD, and the stability of these difficulties are presented, to analyze the investigation and educational practice implications. Some limitations of the studies that raise new research questions are also identified.