A criança participa brincando: educação de infância ao ar livre

Abstract

Este estudo nasce de uma preocupação central relativamente à infância contemporânea: as ameaças que têm sido realizadas relativamente ao brincar e, muito especialmente, ao brincar ao ar livre. Este estudo tem, ainda, a sua matriz teórica na Sociologia da Infância, com tónica nas questões relativas à participação da criança. O nosso caminho traçou-se na discussão de uma participação situada entre a fala e a acção, tendo por base a Convenção dos Direitos das Crianças (UNICEF, 1989a), contudo procurando ir mais além. Partindo destes pressupostos teóricos, propusemos, então, compreender quais são as dimensões de participação e cidadania das crianças presentes no brincar ao ar livre em contextos de educação de infância. O trabalho de campo decorreu em dois jardins de infância com práticas pedagógicas que privilegiam o brincar ao ar livre, um deles na Noruega e o outro em Portugal. Para dar resposta às nossas questões de investigação utilizámos a metodologia de estudo de caso de inspiração etnográfica, procurando o diálogo entre os dois contextos em estudo. Os instrumentos de geração de dados incluíram a observação participante, as notas de campo e as conversas informais. Destacamos, ainda, o recurso às metodologias visuais, principalmente através de fotografias, mas também vídeos. A partir dos resultados construímos dois eixos de reflexão. Um dos eixos revela a participação através de decisões e escolhas das crianças, manifestadas em parte pela fala e em parte pela acção. As decisões das crianças revelam-se nas reuniões formais mas, sobretudo, em momentos informais, através da escolha relativamente aos espaços onde brincam, aos materiais e aos tempos e actividades. O segundo eixo integra as iniciativas e realizações das crianças, que se referem à sua participação sobretudo sob a forma de acção, através do corpo e do movimento. As acções destacadas referem-se ao brincar com riscos, às explorações e descobertas, às construções, aos desafios e problemas, aos conflitos e lutas, bem como às regras e disrupções. Salientamos, ainda, que o ar livre enquanto lugar do brincar parece contribuir para um alargamento das dimensões espaço e tempo na experiência das crianças.

This study is born out of a central concern regarding contemporary childhood: the threats that have been carried out in relation to playing and, especially, when playing outdoors. This study also has its theoretical matrix in the Sociology of Childhood, with a focus on issues related to children's participation. Our path was traced in the discussion of participation situated between speech and action, based on the Convention on the Rights of the Child (UNICEF, 1989a), however seeking to go further. Based on these theoretical assumptions, we then proposed to understand the dimensions of participation and citizenship of children present in outdoor play in early childhood education contexts. The fieldwork took place in two kindergartens with pedagogical practices that privilege outdoor play, one in Norway and the other one in Portugal. To answer our research questions, we used the ethnographicinspired case study methodology, seeking a dialogue between the two contexts under study. Data generation instruments included participant observation, field notes and informal conversations. We also highlight the use of visual methodologies, mainly through photographs, but also videos. From the results, we built two axes of reflection. One of the axes reveals participation through children's decisions and choices, manifested in part by speech, and in part by action. Children's decisions are revealed in formal meetings but, above all, in informal moments, through the choice of spaces where they play, materials, their times and activities. The second axis includes the children's initiatives and achievements, which refer to their participation mainly in the form of action, through the body and the movement. The highlighted actions refer to playing with risks, explorations and discoveries, constructions, challenges and problems, conflicts and struggles, as well as rules and disruptions. We also emphasize that the outdoors as a place of play seems to contribute to an expansion of the space and time dimensions in children's experience.