Modos de ver, modos de fazer imagens de arquitetura e cinema no século XX

Abstract

A arquitetura e o cinema são duas disciplinas que geram imagens de representação e de definição do mundo. O edifício e a câmara são dispositivos artificiais que atuam sobre o ambiente físico, manipulando- o e estabelecendo narrativas que provocam sobre quem o habita justaposições entre a perceção objetiva da realidade e a imagem subjetiva da sua experiência. Sendo essa sobreposição derivada por lógicas de montagem e composição que articulam partes e fragmentos, serão compreendidos, primeiramente, os ideais que descreveram a primeira metade do século XX, partindo da análise de obras de Le Corbusier associadas às obras cinematográficas Sunrise: A Song of Two Humans e Man with a Movie Camera, de F.W. Murnau e Dziga Vertov, respetivamente. Foram gerados modos de ver, pensar e, consequentemente, construir, a partir de um olhar que valorizava o movimento associado à visão priorizando uma ideologia universal. A associação de imagens subservientes a um todo procurava uma linguagem coerente e, portanto, uma construção panorâmica que conduzia o projeto moderno. Na segunda metade do século, ainda que se mantenha a ideia de um todo, o olhar dirige-se, não para a grande imagem, mas para o que é particular, para a ideia de fragmento que ganha autonomia e protagonismo. A ideia de coerência e de composição passa a estar a ligada à associação de imagens autónomas, capazes de provocar perceções distintas de vários todos instituídos agora em cada um dos fragmentos. É, portanto, adotada uma visão aproximada, um zoom, sobre a realidade influenciada pelos pensamentos dos arquitetos Alison e Peter Smithson que serão articulados com Michelangelo Antonioni em Blow-Up e Alfred Hitchcock em Rear Window.

Architecture and cinema are two disciplines that generate images of representation and definition of the world. The building and the camera are artificial devices that act upon the physical environment, manipulating it and establishing narratives that provoke on those who inhabit it juxtapositions between the objective perception of reality and the subjective image of experience. As this superimposition is derived by logics of montage and composition that articulate parts and fragments, the ideals that described the first half of the twentieth century will first be acknowledged, starting with the analysis of works by Le Corbusier associated with the cinematographic productions Sunrise: A Song of Two Humans and Man with a Movie Camera, by F.W. Murnau and Dziga Vertov, respectively. Ways of seeing, thinking and, consequently, constructing were generated from a perspective that valued the movement associated with vision prioritising a universal ideology. The association of images subservient to a whole caused a coherent language and, therefore, a panoramic construction that led the modern project. In the second half of the century, although the idea of a whole is maintained, the gaze is directed, not towards the great image, but towards what is particular, the idea of the fragment that gains autonomy and protagonism. The idea of coherence and composition becomes linked to the association of autonomous images, capable of provoking distinct perceptions of the various wholes instituted now in each of the fragments. An approximate vision, a zoom, is therefore adopted on the reality influenced by the thoughts of the architects Alison and Peter Smithson that will be articulated with Michelangelo Antonioni in Blow-Up and Alfred Hitchcock in Rear Window.