Isolamento social e função cognitiva em idades avançadas: um estudo com base no projeto SHARE

Abstract

O desempenho cognitivo é uma das maiores preocupações das pessoas mais velhas e contribui, a par de outros fatores, para a sua qualidade de vida. Os estudos em Ciências Sociais concluem que as redes sociais e a participação social são fatores protetores do desempenho cognitivo nas idades mais avançadas e que, pelo contrário, o isolamento social está associado a declínio cognitivo e a maior probabilidade de desenvolver demência. Na continuidade destas pesquisas, este estudo tem por objetivo principal investigar a associação entre o isolamento social e o desempenho cognitivo, inovando na medida em que considera, para além da função cognitiva total, cada um dos seus domínios, considerados isoladamente (fluência verbal, numeracia, orientação no tempo, memória imediata e memória tardia). Este estudo é também, tanto quanto sabemos, o primeiro que incide sobre Portugal. Recorre aos dados do projeto SHARE - Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe, vaga 6, relativos à população europeia e israelita, com 65 e mais anos. A partir do desenvolvimento de modelos de regressão linear, que visam avaliar a associação entre o isolamento social e a função cognitiva, controlando características demográficas e socioeconómicas dos indivíduos, geralmente associadas à função cognitiva, conclui-se que ser mulher, ter uma escolaridade mais elevada, melhor saúde física e estar satisfeito com a sua rede social está associado positivamente ao funcionamento cognitivo. Por outro lado, ser mais velho, apresentar sintomas de depressão, viver em situação de stress financeiro e estar em situação de maior isolamento social está associado negativamente à função cognitiva. Mais precisamente, conclui-se que, quando o isolamento social aumenta, o desempenho cognitivo é menor, tanto para a função cognitiva total como para as dimensões estudadas. Esta situação pode ser eventualmente explicada pelo facto de as pessoas idosas em situação de isolamento social não obterem o estímulo cognitivo que advém das relações sociais, nem o suporte que as redes sociais lhes podem proporcionar em momentos de perda e/ou de dificuldades.

Cognitive performance is a major concern for older people and contributes, along with other factors, to their quality of life. Social sciences studies conclude that social networks and social participation are protective factors of cognitive performance at older ages. On the contrary, social isolation is associated with cognitive decline and a greater likelihood of developing dementia. Following on from this research, this study's main aim is to investigate the association between social isolation and cognitive performance, innovating in that it considers, in addition to total cognitive function, each of its domains, considered in isolation (verbal fluency, numeracy, time orientation, immediate memory, and late memory). As far as we know, this study is also the first to focus on Portugal. It uses data from the SHARE project - Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe, wave 6, concerning the European and Israeli population aged 65 and over. Based on the development of linear regression models, which aim to assess the association between social isolation and cognitive function, controlling for individuals' demographic and socio economic characteristics, generally associated with cognitive function, it is concluded that being female, having a higher level of education, better physical health and being satisfied with their social network are positively associated with cognitive functioning. On the other hand, being older, having depression, living in financial stress, and greater social isolation are negatively associated with cognitive function. More precisely, it is concluded that when social isolation increases, cognitive performance is lower, both for total cognitive function and the dimensions studied. This situation may be explained by the fact that older people in social isolation do not obtain the cognitive stimulation from social relationships or get the support that social networks can provide them in times of loss and difficulties.