A(s) voz(es) do silêncio e da guerra. Sobre os romances autobiográficos de António Lobo Antunes (Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Conhecimento do Inferno)

Abstract

António Lobo Antunes (ALA) tenta integrar o passado de forma literária, misturando diferentes níveis temporais e dando-nos um género de ‘realidade recortada’. O autor tenta pautar os seus livros de silêncio, abordando a ideia de perda e do sentido da nossa própria existência. Com os territórios ficcionais que cria, as palavras assumem, portanto, uma carga simbólica muito característica e rica. ALA apresenta, como motivo narrativo nas suas obras, a transposição da experiência pessoal da guerra, para um plano onde a incomunicabilidade e simultaneidade de vozes se confundem com um desabafo narrativo. ALA explora, também, uma certa condição do Homem, um ser muitas vezes alheio, impotente e sem escolha. Nesta perspetiva, as suas personagens muitas vezes reforçam uma coletividade indispensável à ideia de uma guerra comum, aquela em que a destruição e a catástrofe se apoderam da nossa própria expressão. O objetivo da presente dissertação é o de analisar a temática do silêncio e da guerra na obra literária de ALA. Tendo como corpus de estudo as obras Memória de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e Conhecimento do Inferno (1980), pretende-se desenvolver a ideia central de trauma e marginalidade patente na sua obra. Esta dissertação procura estabelecer uma relação concreta entre a ideias de silêncio e de trauma, fazendo um paralelismo entre o caráter inefável da guerra e as suas sequelas interiores. A razão pela qual se selecionou este corpus literário tem que ver com a vasta presença destes aspetos nas três obras em causa, que correspondem aos três primeiros romances do autor. Desta forma, propõe-se uma reflexão que visa desconstruir o lado mais cinzento e destrutivo do ser humano, contextualizando-o com o projeto lobo-antuniano, de superar a sua guerra traumática.

António Lobo Antunes (ALA) tries to integrate the past in a literary way, mixing different time levels and giving us a kind of 'cut-out reality'. The author tries to guide his books through silence, addressing the idea of loss and the meaning of our own existence. With the fictional territories he creates, words take on a very characteristic and rich symbolic charge. ALA presents as narrative motif in his works the transposition of the personal experience of war to a plane where the incommunicability and simultaneity of voices are confused with a narrative vent. ALA also explores a certain condition of Man, a being that is often alien, powerless and without choice. From this perspective, its characters often reinforce a collectivity indispensable to the idea of a common war, one in which destruction and catastrophe take over our own expression. This dissertation aims to analyse the theme of silence and war in ALA's literary work. Using the works Memória de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) and Conhecimento do Inferno (1980) as a corpus of study, we intend to develop the central idea of trauma and marginality patent in his work. This dissertation seeks to establish a concrete relationship between the idea of silence and trauma, drawing a parallel between the ineffable character of war and its inner sequels. The reason for selecting this literary corpus has to do with the vast presence of these aspects in the three works in question, which correspond to the author's first three novels. This way, we propose a reflection which aims to deconstruct the most grey and destructive side of the human being, contextualizing it with the ALA' project of overcoming his traumatic war.