Ritmos e coreografias do caminhar turístico na Medina de Tunes, Tunísia

Abstract

Nos últimos anos, o ‘mobility turn’ nas Ciências Sociais possibilitou um olhar diferente e criativo sobre a complexidade da mobilidade humana (Sheller & Urry, 2004; Urry, 2007). São vários os autores que se têm focado no modo como caminhamos por exemplo, sejam estes movimentos em contextos urbanos ou rurais, sejam para trabalho ou lazer (Solnit, 2000; Ingold, 2008; Wuinderlich, 2008; Edensor, 2010). Tem havido assim um crescente número de trabalhos que focam o movimento das pessoas, e recorrendo a tecnologias de posicionamento, constroem cartografias complexas e precisas de trajectórias no espaço e tempo. Esta comunicação centra-se nos movimentos e sobretudo nos caminhares e performances de turistas na Medina de Tunis, Tunísia. Este é um espaço urbano fortemente delapidado mas classificado como património da humanidade pela UNESCO (300 hectares) Está fortemente retraído em termos sociais e económicos, tem assistido a uma perda constante de população e é um espaço maioritariamente pedonal. Se é certo que a medina é diariamente percorrida por inúmeros turistas que trazem cor, coreografias e ritmos que em si também a constituem, este espaço, despoleta nos turistas internacionais uma série de imaginários orientalistas e marcadamente islâmicos, inspira fobias e reservas. Apesar de alguma atractividade, esta parte central da cidade revela-se algo periférica ao desenvolvimento turístico urbano, e periférica também em relação ao modelo de crescimento turístico à escala nacional. Inspirado pelo trabalho inacabado de Lefebvre (2004) sobre a análise de ritmos, e a sua insistência na coexistência de vários pulsares na cidade, e pelos conceitos de Estratégia e Táctica de Michel de Certeau, esta comunicação explora os ritmos e modos de andar dos turistas, que incluem as suas performances, linguagem corporal, avanços e recuos e olhares. Este trabalho resulta de campo exaustivo e detalhado, onde foi usada uma combinação de métodos móveis, entrevistas e análise de comentários em redes sociais. Defende-se que os turistas constroem diferentes ritmos na cidade, alterando-os rapidamente dependendo das situações em que se encontram. É a forma complexa como os corpos e ritmos dos turistas se cruzam com a cidade contemporânea que contribui para a construção da cidade em si mesma.