O trabalho com as pedras: da leveza, do poético e do autorretrato na escrita de António Lobo Antunes

Abstract

O mundo, o autor, a escrita: o romance de António Lobo Antunes joga-se, de modo dinâmico e dialético, nos cruzamentos e interstícios desta tripla incógnita, tendendo melancolicamente para a restauração de uma unidade a consumar-se no Livro Total: um microcosmos tão autossuficiente quanto inadjetivável que o longo trabalho com a pedra das palavras acabará por largar como um corpo mais no universo, um corpo cujos átomos por fim se reuniram (diria Lucrécio), propondo-nos — em vez da esmagadora representação da realidade ou da narrativa da vida — uma «meditação poética sobre a existência» (Kundera).