Sono, saúde e satisfação com a vida em adultos: um estudo representativo da população portuguesa

Abstract

Objetivo: Estudar as associações dos distúrbios do sono com a autoperceção da satisfação com a vida e com a presença de doenças cardiometabólicas em adultos portugueses. Metodologia: Desenvolvemos um estudo transversal, representativo da população portuguesa, com base nos dados do sexto Inquérito Nacional de Saúde desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no qual participaram 14 341 adultos portugueses (53,5% do género feminino). Os distúrbios do sono foram avaliados através da questão Nas últimas duas semanas, com que frequência teve dificuldade em adormecer ou dormiu pouco ou dormiu demasiado?, a autoperceção da satisfação com a vida através da Escala de Satisfação com a Vida (ESV), a qual indaga sobre a concordância em relação a aspetos da vida (p.e., a minha vida aproxima-se dos meus ideais) e as doenças cardiometabólicas foram identificadas através da sua presença (ou ausência) no último ano (p.e., Nos últimos 12 meses teve alguma das seguintes doenças...?). Foram obtidos o perfil sociodemográfico (p.e., idade, género, escolaridade, rendimento familiar), a massa corporal, estatura, ingestão alimentar e a atividade física. Modelos lineares generalizados foram realizados no estudo das associações entre distúrbios do sono e a autoperceção da satisfação com a vida (estudo I) e a regressão binária logística no estudo das associações entre distúrbios do sono e a presença de doenças cardiometabólicas (estudo II). Em ambos os estudos procedemos ao ajuste para as seguintes covariáveis: idade, género, índice de massa corporal (IMC), nível de escolaridade, grau de urbanização, rendimento familiar, padrão alimentar e de atividade física. Resultados: Os distúrbios do sono estão negativamente associados à autoperceção da satisfação com a vida em adultos portugueses. Aqueles que referiram pelo menos um distúrbio do sono nas últimas duas semanas apresentaram uma pontuação mais baixa na ESV [B (Intervalo de Confiança (IC) 95%) -2,9 (-3,2; -2,8)]. Em relação às doenças cardiometabólicas, aqueles com pelo menos um distúrbio do sono nas últimas duas semanas, apresentaram maior propensão para desenvolver doenças cardiometabólicas, que variaram entre [Odds Ratio (OR) (IC 95%) 1,1 (1,0; 1,2)] para o excesso de peso/obesidade e [2,0 (1,5; 2,6)] para o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM). Conclusão: Aqueles que apresentam distúrbios do sono exibem níveis mais baixos de satisfação com a vida, assim como uma maior propensão para desenvolverem doenças cardiometabólicas. De uma perspetiva comunitária e com vista ao combate de doenças não comunicáveis, como as cardiometabólicas, e à promoção da satisfação com a vida são necessários programas de intervenção que versem a promoção da higiene do sono e a prevenção dos seus distúrbios.

Objective: To study the associations of sleep disorders with self-reported life satisfaction and the presence of cardiometabolic diseases among Portuguese adults. Measurements: This is a cross-sectional study, representative of the Portuguese population, using data from the sixth National Health Survey developed by the National Statistics Institute, in which 14 341 Portuguese adults participated (53,5% women). Sleep disorders were assessed, by the frequency in which they occur, through the question In the last two weeks, how often did you have difficulty falling asleep or did you sleep too little or did you sleep too much?, life satisfaction by the Satisfaction With Life Scale, which asks the degree of agreement about aspects of life (e.g. my life approaches my ideals), and cardiometabolic diseases due to the presence (or absence) in the last year (During the past 12 months have you suffered from any of the following diseases ...?). Information about the participants' socio-demographic profile was collected, including age, gender, weight, height, level of education, family income, degree of urbanization, food pattern and physical activity. We performed generalized linear models to assess the associations between sleep disorders and self-reported life satisfaction (paper I) and logistic regression to assess the associations between sleep disorders and the presence of cardiometabolic diseases (paper II), both adjusted for potential confounders such as age, sex, body mass index, education level, family income, food pattern and physical activity. Results: Sleep disorders are negatively associated with self-reported life satisfaction, despite the differences in covariates. Those with at least one sleep disturbance in the last two weeks were significantly associated with a lower score of life satisfaction [B (95% CI) -2.9 (-3.2; -2.8)]. Regarding to cardiometabolic diseases, those with at least one sleep disturbance in the last two weeks, have higher odds of developing cardiometabolic diseases that varied between [OR (95% CI)] 1.1 (1.0; 1.2) for overweight/obesity and [2.0 (1.5; 2.6) for acute myocardial infarction. Conclusion: People with at least one sleep disorder were inversely associated with levels of self-reported life satisfaction. From a community health perspective, good sleep hygiene intervention programs should be highlighted. Also, the positive associations between sleep disorders and cardiometabolic health outcomes emphasize the need to reinforce that community intervention. Furthermore, this is relevant to tackle non-communicable diseases such as those related to cardiometabolic system.