Identificação e intervenção na PHDA: o papel e a perspetiva dos pais

Abstract

Ao longo das últimas décadas a prevalência da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção tem aumentado, assim como a terapêutica farmacológica concomitante. Existem indicadores de que esta perturbação possa estar sobrediagnosticada, o que remete para uma possível medicalização dos comportamentos considerados como socialmente desviantes. Uma das explicações para este fenómeno centra-se nos pais, não só por constituírem elementos chave na interpretação da normatividade dos comportamentos dos filhos, mas também porque as suas autoperceções de incapacidade de gestão destas condutas influenciam a procura de ajuda especializada. Este estudo teve como objetivo explorar o papel dos pais na sinalização e procura de tratamento para crianças com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Particular ênfase foi dada às suas perspetivas acerca dos efeitos da medicação, eficácia e impacto a longo prazo. Mediante o método de amostragem não probabilístico de conveniência e snowball foram entrevistados 25 pais cujos filhos tinham diagnóstico desta perturbação e estavam a ser medicados para este efeito. Os resultados enfatizam o papel da escola na sinalização do problema e apontam que a pressão exercida pelos professores, a preocupação com o aproveitamento escolar e a dificuldade de controlo dos comportamentos das crianças são os principais fatores que motivam a consulta médica. Quanto à intervenção, verificou-se uma priorização do tratamento farmacológico sobre outras modalidades terapêuticas e uma perspetiva positiva dos pais acerca da eficácia da medicação, independentemente dos efeitos secundários que produz. Concluiu-se assim que a adesão aos fármacos supre as dificuldades de gestão comportamental por parte dos progenitores, o que parece reforçar a sua procura, contribuindo para a medicalização das crianças.

Over the last few decades, the prevalence of Attention Deficit Hyperactivity Disorder has increased, as well as the concomitant pharmacological therapy. There are indicators that this disorder may be overdiagnosed, which points to a possible medicalization of the behaviors considered as socially deviant. One of the explanations for this phenomenon focuses on parents, not only because they are key elements in the interpretation of the normativity of their children's behavior, but also because their self-perceptions of inability to manage these behaviors influence the demand for specialized help. This study aimed to explore the role of parents in signaling and seeking treatment for children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder. Particular emphasis was placed on their perspectives on the effects of medication, efficiency and long-term impact. Using the non-probabilistic sampling methods of convenience and snowball, 25 parents whose children had diagnosis of this disorder and were being medicated for this purpose were interviewed. The results emphasize the role of school in signaling the problem and point out that the pressure exerted by teachers, the concern with school performance and the difficulty in controlling children's behaviors are the main factors that motivate medical consultation. Regarding the intervention, there was a prioritization of the pharmacological treatment over other therapeutic modalities and a positive perspective from parents about the effectiveness of the medication, regardless of the side effects it produces. It was concluded that adherence to psychiatric drugs addresses parents’ difficulties in managing behaviors, which seems to reinforce their search, contributing to the medicalization of children.