O papel da faixa e rota no quadro da reemergência chinesa: entre status quo e revisionismo

Abstract

Desde o fim da Guerra Fria que os Estados Unidos da América são o estado hegemónico. Num contexto em que a hegemonia dos estados não é eterna, surge um ator que se destaca face aos demais na nova ordem global: a China. Pequim tem demonstrado que pretende desempenhar um papel preponderante na governação mundial, com base na construção de um soft power que projete a imagem de uma potência pacífica. Desde que foi lançada em 2013, a Faixa e Rota Chinesa (FRC) constitui um instrumento privilegiado para impulsionar a reemergência do Imperio do Meio. Servindo-se da magnitude económica, política, militar e cultural da FRC, Pequim invoca um passado imperial, promovendo um desenvolvimento harmonioso e, simultaneamente, a cooperação com os restantes países. Dito isto, a presente investigação propõe-se avaliar o impacto que a FRC é suscetível de exercer na chamada Comunidade de Destino Comum em alternativa a uma visão tradicionalmente ocidentalizada das Relações Internacionais. Em concreto, pretende-se colmatar uma lacuna nos diversos estudos sobre a FRC, no sentido de entender o alcance disruptivo e/ou revisionista inerente a tal iniciativa. Através das lentes concetuais do neorrealismo, procuraremos responder à seguinte questão de investigação: Em que medida é a FRC reflexo de uma China revisionista ou, ao invés, do status quo?

Since the end of the Cold War, the United States of America has been the hegemonic state. In a context in which the hegemony of states is not eternal, an actor is emerging in the new global order that stands out from the others: China. Beijing has demonstrated that it intends to play a leading role in global governance, based on the development of soft power that projects the image of a peaceful power. Since its launch in 2013, the Belt and Road Initiative (BRI) has been a privileged instrument for promoting the re-emergence of the Middle Kingdom. Relying on the economic, political, military, and cultural scale of the BRI, Beijing invokes an imperial past, promoting harmonious development while encouraging cooperation with other countries. Against this backdrop, the present study proposes to assess the impact of the BRI on the so-called Community of Common Destiny as an alternative to the traditional Western vision of international relations. Specifically, it seeks to fill a gap in the various studies of the BRI to understand the disruptive and/or revisionist scope inherent in such an initiative. Through the conceptual lens of neorealism, we will attempt to answer the following research question: To what extent is the BRI a reflection of a revisionist China or, on the contrary, of the status quo?