Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/9493

TítuloViolência nas relações de intimidade: comportamentos e atitudes dos jovens
Autor(es)Caridade, Sónia Maria Martins
Orientador(es)Machado, Carla
Data22-Mai-2009
Resumo(s)Durante anos, a violência nas relações de intimidade juvenil permaneceu omissa e/ou mesmo marginalizada nos discursos sociais e científicos, por comparação com a violência marital. As dificuldades associadas à própria definição de violência e à operacionalização desse conceito, a dificuldade de acesso dos investigadores à população juvenil (e.g., necessidade de autorização dos pais) e a inexistência de um estatuto legal, autónomo, alusivo à violência fora dos contextos maritais (e.g., condição que restringe quer a sinalização, quer o acesso desta população aos serviços de apoio formais) são alguns dos factores que em parte contribuíram para que este problema permanecesse oculto/inexplorado (Hickman, Jaycox, & Aronoff, 2004) e que continuam a dificultar o seu conhecimento. Contudo, e não obstante estas dificuldades, a violência nas relações amorosas juvenis tem vindo progressivamente a ser considerada um problema social relevante e merecedor de atenção em si mesmo, recebendo uma atenção crescente por parte da comunidade científica. Assim sendo, os objectivos deste trabalho foram, por um lado, caracterizar a prevalência das diferentes formas de violência nas relações íntimas da população juvenil, em termos da perpetração e da vitimação, bem como analisar as crenças e atitudes em relação a estes comportamentos. Por outro lado, procurou-se analisar a forma como a violência era significada pelos jovens, especificamente; quais os actos representados por estes como violentos, quais as causas percebidas para a violência e de que forma os jovens compreendem as suas dinâmicas, qual o seu grau de tolerância perante as diferentes condutas abusivas (e as circunstâncias em que tal desculpabilização ocorre) e de que forma as representações sobre os papéis de género se articulam com a tolerância à violência. Na parte teórica deste trabalho, começamos por comprovar a relevância social deste problema, mediante a análise de um vasto corpo de estudos que têm vindo a caracterizar a epidemiologia deste fenómeno. Para além de apresentarmos o “estado da arte” sobre a prevalência deste tipo de abuso, em termos internacionais e nacionais, procuramos ainda tecer algumas considerações sobre os principais problemas metodológicos que a investigação neste âmbito enfrenta, sugerindo igualmente alguns desafios para futuros estudos. Depois disto, e dado que para prevenir o problema é condição fundamental conhecer as suas causas, analisámos, no segundo capítulo desta dissertação, aquelas investigações que procuram identificar as condições e/ou factores que favorecem a ocorrência deste tipo de abuso. Atendendo a que as atitudes e/ou crenças abusivas têm sido conceptualizadas como um dos preditores mais consistentes do abuso íntimo, discutimos, no terceiro capítulo desta tese, a forma como estas podem favorecer a violência íntima, assim como a sua relação com a dimensão cultural e as relações de género. A parte empírica desta dissertação compreendeu dois estudos metodologicamente distintos, mas complementares: o primeiro estudo, de natureza quantitativa, procurou caracterizar o fenómeno da violência na intimidade juvenil, ao nível da sua prevalência (do ponto de vista da perpetração e da vitimação) e principais correlatos socio-demográficos. Foram também analisadas as crenças e atitudes da população juvenil acerca deste tipo de comportamentos. Este estudo foi realizado com uma amostra de 4667 jovens, dos 13 aos 29 anos, recorrendo-se a um questionário de avaliação das atitudes e a outro de avaliação dos comportamentos violentos no contexto das suas relações afectivas. A partir deste estudo foi possível comprovar que um número significativo de jovens de vários contextos formativos tende a adoptar condutas violentas nas suas relações amorosas, que as dinâmicas violentas compreendem sobretudo formas de violência “menor”, e que não existe um padrão claro de diferenciação de género na perpetração da violência íntima. No plano atitudinal, evidenciou-se uma tendência global para a desaprovação da violência, ainda que o género masculino se destaque no sentido de uma maior legitimação deste tipo de abuso. O segundo estudo, de natureza qualitativa, recorreu à realização de nove grupos de discussão com jovens de diferentes contextos formativos. Através da Grounded Analysis das discussões de grupo, verificámos que, em termos gerais, os jovens efectivamente reprovam o uso da violência na intimidade e evidenciam alguma consciência das dinâmicas e consequências deste tipo de abuso. Porém, uma análise mais pormenorizada dos seus discursos aponta para uma certa permeabilidade a noções que contribuem para a minimização e desculpabilização de certas formas de violência, em certas circunstâncias (e.g., minimização da violência menor; “negação” da violência sexual; ausência de gravidade atribuída a certos actos abusivos; desculpabilização da violência quando o agressor é percebido como agindo de forma impulsiva e descontrolada ou quando manifesta arrependimento; atribuição da responsabilidade pelo abuso à vítima). Partindo dos contributos que a realização destes estudos proporcionou, sugerimos, nas conclusões deste trabalho, algumas medidas preventivas a desenvolver no âmbito da violência na intimidade juvenil, e apresentamos alguns desafios e pistas para futuros estudos a desenvolver sobre esta matéria.
For years, violence in dating relationships remained marginalized and/or even omitted from social and scientific discourses, in comparison with marital violence. The difficulties associated with the very definition of violence and the operationalization of this concept, researchers’ difficulty in accessing the juvenile population (e.g., need for parental permission), and the lack of a legal, autonomous status concerning violence outside marital contexts (e.g., a condition that restricts both the signalization and the access of this population to formal support services) are some of the factors that contributed to keeping the problem hidden (Hickman, Jaycox, & Aronoff, 2004) and to making the acquisition of knowledge about it more difficult. However, violence in dating relationships has progressively been considered a relevant social problem, deserving attention in itself, therefore receiving increasing attention from the scientific community. Hence, the aims of this study were to characterize the prevalence of different forms of violence in juvenile intimate relationships, considering both perpetration and victimization, as well as to analyze the beliefs and attitudes of juveniles regarding these behaviors. On the other hand, we tried to specifically analyze the meanings that adolescents ascribe to violence, examining which behaviors they identify as violent, what are the perceived causes for violence, what is their degree of tolerance towards different abusive behaviors (and the circumstances in which such acceptance occurs), and the way gender role representations are associated with tolerance to violence. In the theoretical part of this work, we begin by analyzing a large body of studies that characterize the epidemiology of this phenomenon and that confirm the social relevance of this problem. Besides presenting the national and international “state of the art” on the prevalence of this type of abuse, we also comment on the main methodological problems faced by research in this domain, suggesting some directions for future studies. After this, since the information about the causes is a fundamental condition to the prevention of the problem, we have examined those investigations that seek to identify conditions and/or factors that facilitate the occurrence of this type of abuse (second chapter). Considering that abusive attitudes and/or beliefs have been conceptualized as one of the more consistent predictors of intimate abuse, in the third chapter of this dissertation we discuss how this dimension might encourage intimate violence, as well as its relationship with culture and gender relationships. The empirical part of this dissertation is composed of two studies methodologically distinct but complementary: the first study, of a quantitative nature, aimed at determining the prevalence of physical and emotional abuse in Portuguese juvenile dating relationships, and at investigating attitudes about these forms of violence. A sample of 4,667 participants, aged 13 to 29 years, filled out two questionnaires, one behavioral and one attitudinal. This study made it possible to prove that a significant amount of adolescents from multiple educational contexts adopt violent behaviors in their romantic relationships, that the violent dynamics usually include “minor” forms of violence, and that there is not a clear pattern of gender differentiation in the perpetration of dating violence. At the attitudinal level, there was a general tendency for the disapproval of violence, despite the fact that the legitimization of this type of abuse is greater among males. The second study, of a qualitative nature, was conducted through nine discussion groups with adolescents from different educational contexts. Through the grounded analysis of the group discussions, we noticed that, in general, young people do in fact disapprove of the use of intimate violence and demonstrate some awareness of the dynamics and consequences of this type of abuse. However, a more detailed analysis of their discourses revealed some permeability to ideas that contribute to the minimization and acceptance of some forms of violence, in certain circumstances (e.g., minimization of minor violence; “denial” of sexual violence; absence of severity assigned to certain abusive behaviors; acceptance of violence when the aggressor is perceived as acting in an impulsive and uncontrolled way or when he/she expresses regret; attribution of blame to the victim). Considering the contributions these studies provided, we suggest, at the conclusion of this work, some preventive measures that should be developed in order to reduce violence in dating relationships, and propose some directions for future research.
TipoTese de doutoramento
DescriçãoTese de doutoramento em Psicologia (ramo de conhecimento em Psicologia da Justiça)
URIhttps://hdl.handle.net/1822/9493
AcessoAcesso restrito UMinho
Aparece nas coleções:BUM - Teses de Doutoramento

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato 
TESE.pdf
Acesso restrito!
1,2 MBAdobe PDFVer/Abrir

Partilhe no FacebookPartilhe no TwitterPartilhe no DeliciousPartilhe no LinkedInPartilhe no DiggAdicionar ao Google BookmarksPartilhe no MySpacePartilhe no Orkut
Exporte no formato BibTex mendeley Exporte no formato Endnote Adicione ao seu ORCID