Qualidade dos ambientes de crescimento e sua relevância para o desenvolvimento da criança : implicações para a intervenção precoce

Abstract

As questões relacionadas com a influência que os ambientes de crescimento podem ter sobre os resultados desenvolvimentais e a capacidade de adaptação da criança têm vindo a ser amplamente discutidas em inúmeros estudos. Considerando que o contexto familiar é o principal e o mais primordial destes ambientes, torna-se necessário conceptualizar quais os factores presentes neste contexto que podem intervir no processo desenvolvimental de uma criança e quais aqueles que podem ser determinantes na escolha de critérios de elegibilidade para a necessidade de intervenção sobre estes aspectos. Tal reflexão é extremamente relevante para todos os profissionais que trabalham em prol do objectivo último de garantir que estão reunidas todas as condições que potenciem um adequado desenvolvimento da criança, tal como é o caso dos profissionais de Intervenção Precoce. Assim sendo, o presente estudo pretendeu, através da comparação de dois grupos de 6 famílias com diferentes condições iniciais, operacionalizar as questões acima mencionadas. Estes dois grupos eram constituídos, por um lado, por famílias onde tinha sido identificado um elevado número de factores de risco (grupo 1) e, por outro, por famílias onde o número de factores de risco identificados era reduzido (grupo 2). A estes dois grupos de famílias foi aplicado um conjunto de instrumentos que pretendiam avaliar uma série de factores descritos na literatura como sendo relevantes, no contexto familiar, para o desenvolvimento da criança até aos 3 anos de idade, nomeadamente: Ficha de Caracterização Familiar, Ficha de Caracterização da Criança, Inventário HOME (Caldwell e Bradley, 1984) e Escala de Interacção Apoiante (McCollum e Yates,1995). Paralelamente, foi também efectuada uma avaliação do desenvolvimento global das crianças, utilizando a Escala de Avaliação das Competências do Desenvolvimento Infantil (Bellman et al, 1996). Os resultados obtidos apontam para a não existência de diferenças entre os dois grupos, ao nível dos resultados desenvolvimentais das crianças, estando estes, à excepção de algumas áreas mais fragilizadas, tais como a linguagem e a cognição, dentro daquilo que seria esperável para as suas faixas etárias. Embora tenham sido obtidos outros resultados que apontam para diferenças entre os dois grupos ao nível da qualidade do ambiente familiar e das interacções que se estabelecem entre os pais e as crianças, os resultados desenvolvimentais destas vêm reforçar a ideia de que não é possível encetar qualquer investigação nesta área sem considerar os poderosos efeitos positivos que a presença dos factores de protecção e dos processos de resiliência podem ter sobre as trajectórias desenvolvimentais das crianças.

The influence that the environmental context can have over the developmental outcomes, as well as the child’s capacity to adjust, constitute main issues that have been considerably discussed in many studies. Considering that the family context is the primordial one of these environments, it becomes necessary to understand which of the factors within this context may interfere in the development of a child and which of them can be determinant to prioritize when considering the need of intervention to maximize child’s development. This thought is extremely relevant for all the professionals who work towards the main goal of creating the best conditions in order to potentiate an adequate development of the child, as it is the case of early childhood professionals. This way, the goal of the present study is to identify those factors and their influence on development, through the comparison of two groups of 6 families with different initial conditions. These two groups were composed by families where it had been identified a variety of risk factors (group 1), and, by families where the number of risk factors were reduced (group 2). A group of instruments was applied to these two groups of families, which meant to evaluate a serial of factors described in the literature as being relevant, for child development from birth to 3 years of age, in the family context, . The instruments used were: Ficha de Caracterização Familiar, Ficha de Caracterização da Criança, Inventário HOME (Caldwell e Bradley, 1984) e Escala de Interacção Apoiante (McCollum e Yates, 1995). At the same time, it was also done an assessment of the children`s global development using the Escala de Avaliação das Competências do Desenvolvimento Infantil (Bellman et al, 1996). The results obtained concerning developmental outcomes of the children, demonstrated no differences between the two groups with the exception of some fragile areas, such as cognition and language ,even though these results were within what`s expected for their chronological ages. Even though the results obtained for the other factors indicate differences between the two groups, namely related to the quality of family environment and to the parents-child interactions, the developmental results of these children reinforce the idea that it is not profitable to make any research within this theme without considering the positive power effect that the presence of protection factors and resilience process can have over the child developmental path.