Stress ocupacional, avaliação cognitiva, "burnout" e sintomatologia depressiva : um estudo com enfermeiros a exercer em contexto hospitalar

Abstract

O stress ocupacional tem sido cada vez mais um tema de grande investigação até à atualidade, não só pelas repercussões que pode ter na vida do trabalhador mas também pelas doenças que os estudos revelam que lhe podem estar associadas. Este trabalho divide-se em duas partes: a primeira discute o estado atual dos conhecimentos e da investigação nesta temática e, na segunda parte analisa o stress, o burnout, a avaliação cognitiva e a sintomatologia depressiva em enfermeiros que se encontravam a exercer a sua actividade em contexto hospitalar. A amostra do estudo é constituída por 153 enfermeiros de um hospital da região norte do país, com idades compreendidas entre os 23 e os 57 anos (M = 36.6; DP = 9.3). Foram utilizados cinco instrumentos: Questionário Demográfico, Escala de Avaliação Cognitiva (EAC), Questionário de Stresse nos Profissionais de Saúde (QSPS), Inventário de Burnout de Maslach – Prestadores de Serviços Humanos (IBMPSH) e a Escala Auto – Aplicada para Avaliação da Depressão de Beck (IDB). Os principais resultados demonstraram que 76.4% dos enfermeiros referiram um índice moderado de stress associado à sua profissão. Relativamente aos níveis de esgotamento (burnout), os resultados obtidos parecem aponta para o facto desta classe não apresenta níveis consideráveis de burnout, não tendo sido detetado nenhum caso de burnout pleno. Ao nível da sintomatologia depressiva obtidos no IDB, verificou-se que 84.4% da classe de enfermagem revelava não sofrer de depressão. As análises comparativas efetuadas ao nível das variáveis pessoais (e.g., sexo, estado civil) e profissionais (e.g., vínculo profissional e serviço onde exerciam a sua actividade) demonstraram que foram as mulheres que experienciaram maiores níveis de stress, os solteiros por sua vez evidenciaram maior desafio e maiores níveis de stress, exaustão emocional e sintomatologia depressiva. Foram os profissionais com vínculo precário que revelaram maior stress e exaustão emocional e face ao serviço onde exerciam a sua actividade os profissionais da urgência evidenciaram maior percepção de controlo e os das áreas cirúrgicas revelaram relações profissionais mais stressantes. No que se refere às análises comparativas e de associação entre as medidas de avaliação cognitiva primária e secundária, verificou-se que os profissionais com alta perceção de ameaça e baixa perceção de desafio evidenciaram experiências pessoais e profissionais mais negativas (e.g., maior stress, burnout e sintomatologia depressiva). Por último, foram efetuadas análises de regressão, verificando-se a importância das dimensões do stress e da avaliação cognitiva primária e secundária na predição nas dimensões do burnout. Este estudo vem demonstrar mais uma vez a necessidade de se investir na prevenção e promoção da saúde dos enfermeiros.

Occupational stress has been increasingly a subject of great research up to present not only due to the impact that it can have on the lives of workers but also due to the diseases associated with it as shown by studies. The aim of this research is to analyze the stress, burnout and depressive symptoms in nurses practicing in a hospital environment. This work is divided into two parts: the first discusses the current state of knowledge and research on this topic and in the second part it analyzes the stress, burnout, cognitive appraisal and depressive symptoms in nurses who were working in a hospital setting. The study sample consists of 153 nurses at a hospital in the Northern region, aged between 23 and 57 years (M = 36.57, SD = 9.3). Five instruments were used: Demographic Questionnaire, the Cognitive Assessment Scale (CAS), and Questionnaire on Stress in Health Professionals (QSPS), Maslach Burnout Inventory - Human Services Providers (IBM-PSH) and the Beck Self – Applied Scale for Assessment of Depression (IDB). The results showed that 76.4% of nurses reported a moderate rate of stress associated with their profession. The results on the levels of exhaustion (burnout) seem to indicate that the nursing class has no significant levels of burnout, and it was not detected any cases of full burnout. In terms of depressive symptoms obtained in the IDB, it was found that 84.4% of the nursing class shows no signs of depression. The comparative analysis performed at the level of personal variables (gender, marital status) and professional variables employment status and place of professional activity) showed that women experienced higher levels of stress, singles, on the other hand, faced greatest challenge and showed higher levels of stress, emotional exhaustion and depressive symptoms. Temporary workers revealed greater stress and emotional exhaustion; on the variable of place of activity ER nurses displayed a better perception of control, and staff in surgical areas revealed more stressful professional relationships. With regard to comparative analyses and association between the primary and secondary cognitive appraisal measures, it was found that workers with high perception of threat and low perception of challenge demonstrated more negative personal and professional experiences (more stress, burnout and depressive symptoms). Finally, regression analyses were performed, verifying the importance of the dimensions of stress and primary and secondary cognitive assessment in predicting the dimensions of burnout. This study demonstrates once again the need to invest in the health prevention and promotion of nurses.