Quando o doente é um idoso: as representações sociais de estudantes de medicina da Universidade do Minho sobre a população com 65 e mais anos

Abstract

Não obstante a enorme conquista que o aumento da longevidade constitui, o crescente peso relativo do topo da pirâmide etária das sociedades ocidentais é percepcionado com algumas reservas. De facto, em 1969 Butler baptiza de ageism (idadismo) as reacções negativas face à população idosa. Este fenómeno encontra-se institucionalizado nas sociedades e manifesta-se em vários domínios da vida social. O mesmo autor, nos anos 80, dá conta de manifestações idadistas entre os estudantes de medicina, que denomina de medical ageism. Mais recentemente, os estudos que abordam esta temática revelam que é um fenómeno universal e que persiste nos dias de hoje. Através de uma metodologia do tipo indutiva fundamentada nos dados (Grounded Theory), este estudo propõe-se estudar as representações sociais dos estudantes do curso de medicina da Universidade do Minho sobre a população idosa e a relação médico-doente com pacientes idosos. Com efeito, aplicou-se a técnica de entrevista semiestruturada a 11 estudantes do 3º ano do percurso clássico e a 6 estudantes do percurso alternativo do curso de medicina, antes de ingressarem a componente predominantemente clínica. A partir de uma análise de conteúdo das entrevistas realizadas, conclui-se que o posicionamento representativo dos entrevistados é ambivalente, na medida em que indicam representações sociais positivas e negativas sobre a população com 65 e mais anos. Por outro lado, conclui-se que estruturas de oportunidade de interacções com avós e/ou outros idosos importantes nem sempre se traduzem em representações positivas dos idosos. Neste sentido, o estado de saúde e nível de autonomia dos avós e/ou outros idosos importantes contribui para a explicação dessas representações (positivas e negativas). Por fim, conclui-se que os estudantes do percurso alternativo tendem a representar os idosos de forma mais positiva do que os estudantes do percurso clássico. Este estudo diferencia-se dos demais sobre a mesma temática por procurar compreender as representações sociais dos estudantes de medicina adoptando uma perspectiva interaccionista.

Despite the great achievements in increased longevity, the growing relative weight of the top of the age pyramid in western societies is not taken lightly. So much so that, in fact, in 1969 Butler coins the term "ageism" to describe negative reactions to the elder population. This fenomenon is institutionalized in societies and manifests itself in several aspects of social life. The same author, in the 80's, finds ageist manifestations among medicine students, calling it medical ageism. Studies that cover this topic reveal it as a universal happening, still persisting today. Through the usage of an inductive methodology, based on data (Grounded Theory), this study means to analyze the social representations of the Minho University's medicine students on the aged population, as well as the doctor-patient relation with older patients. The technique of semistructured interview was used on 11 third grade classical period students as well as 6 alternative course medicine degree students, just before they enrol on the clinical component of the degree. After a content analysis of the interviews performed, it is concluded that the representative positioning of the interviewees is ambivalent, in the way that they display positive as well as negative social representations of the population with 65 or more years of age. On the other hand, it is also concluded that opportunity structures for interaction with grandparents or other important elders not always translates into positive representations of the elders. In this sense, the health state and levels of autonomy of grandparents or other important elders contributes to the explanation of these representations (positive as well as negative). Finally, it is concluded that the alternative course students tend to represent elders in a more positive manner than their colleagues of the classical course. This study differs from its pairs on the same subject by trying to understand the social representations of the medical students through an interactionist perspective.