Formação contínua e desenvolvimento profissional: um estudo exploratório com professores de ciências naturais em Portugal e Brasil

Abstract

Este estudo visa explorar as semelhanças e diferenças entre as representações de professores de ciências naturais que lecionavam entre o 5º e o 12º anos de escolaridade em Portugal (n=12) e no Brasil (n=12) sobre a formação contínua e desenvolvimento profissional no ensino das ciências. Foi aplicada uma entrevista semi-estruturada organizada em quatro áreas principais que foram mantidas em ambos os países: caraterização biográfica, académica e de experiência profissional; questões relativas à natureza do desenvolvimento profissional contínuo e supervisão disponível para professores de ciências naturais; questões relacionadas com as representações dos professores sobre os cursos de formação contínua em que participaram; questões de saúde e de sustentabilidade nos projetos ou atividades desenvolvidas por esses professores. As entrevistas foram transcritas na integra e foi utilizado um sistema de categorização emergente submetido à apreciação de uma investigadora do Brasil. Os professores nos dois países frequentaram uma grande variedade de modalidades de formação, nos últimos quatro anos, tendo a maioria delas um impacto moderado ou elevado no seu ensino. No entanto, existiram algumas diferenças entre as modalidades de formação em que participaram. Os cursos de formação, as oficinas de formação, as ações de curta duração e a participação em conferências, congressos e seminários foram referidas como fazendo parte das ações de formação contínua dos professores nos dois países. A modalidade de projeto e as disciplinas isoladas de ensino superior foram referidas apenas no Brasil. Todas as modalidades de formação referidas, embora com caraterísticas semelhantes nos dois países, diferiam na sua duração e nas instituições que as ofereciam. Apenas foi percepcionado um impacto baixo da formação na modalidade de curso de formação, quando era exclusivamente teórica e na área do conteúdo das disciplinas que lecionavam, por considerarem que essa aprendizagem não estava baseada na resolução dos problemas que encontravam no seu quotidiano. Estes resultados, apesar das limitações associadas a um estudo desta natureza, apontam para algumas implicações importantes para as caraterísticas das ações de formação contínua com impacto mais positivo nas práticas e desenvolvimento profissional dos professores de ciências naturais nos dois países.