Os discursos de famílias multiproblemáticas pobres: redes de apoio e condição de pobreza

Abstract

As famílias multiproblemáticas que vivem em contexto de pobreza caracterizam-se por experienciarem crises permanentes que as tornam numa população de extrema vulnerabilidade. A forma como se percebem a si próprias e às suas relações constitui um dado fundamental para o seu envolvimento em processos de mudança. Assim, procurou-se perceber de que forma estas famílias percebem a sua condição de pobreza e as suas relações de suporte formais e informais. Para este efeito foram selecionadas 29 famílias benificiárias do Rendimento Social de Inserção (RSI) residentes no grande Porto, as quais responderam ao guião de entrevista semiestruturada de Pakman. Os dados mostram que apesar de experienciarem situações de relevante carência material, várias destas famílias não se consideram pobres. Relativamente às redes de suporte social, as suas respostas mostram significativa falta de confiança nas redes informais, nomeadamente, família e amigos, e contrariamente, um forte apoio percebido, por parte das redes formais, particularmente, técnicos e profissionais de saúde. Este estudo contribui assim para a sensibilização dos profissionais que intervêm junto destas famílias, para a) compreenderem a autorrepresentação de pobreza como possível mecanismo de perpetuação das condições de risco destas famílias e b) a importância de trabalhar as competências interpessoais dentro do seio familiar e nas suas relações para que estas possam representar redes de suporte efetivas.

Multiproblematic families living in a context of poverty are characterized by experiencing permanent crises that make them extremely vulnerabilities. The way they perceive themselves and their relationships constitutes a major trair for their involvement in processes of change. For this purpose, we selected 29 benificiary families of the social insertion income (RSI) residing in Porto city, who responded to the semi-structured interview script by Pakman. The data shows that although they experience situations of relevant material shortage, several of these families do not consider themselves to be poor. Regarding to social support networks, their responses show a significant lack of confidence in informal networks, in particular, family and friends, in the other hand, to a strong perceived support by formal networks, namely, technicians and health professionals. This study contributes to the sensitization of professionals who intervene with these families to a) understand the self-representation of poverty as a possible mechanism for perpetuating the risk conditions of these families, and b) the importance of working interpersonal skills within the family bosom and peer groups, so that they can represent effective support networks.