Accountability múltipla, gerencialismo e identidade do diretor da escola pública portuguesa

Abstract

O capítulo inscreve-se na continuidade de outros trabalhos exploratórios dos autores (por exemplo, Afonso, 2003; 2010; Torres, 2013, Torres, Palhares e Afonso, 2019), recorrendo, uma vez mais, a contributos de pesquisa que, genericamente, podem ser referenciados à sociologia das políticas de educação e/ou à sociologia das organizações educativas. O foco, neste caso, é a figura do gestor (oficialmente designado diretor), o qual tem vindo a adquirir uma crescente (e contraditória) centralidade no atual “regime de autonomia, administração e gestão” das centenas de Agrupamentos que integram a grande maioria das escolas públicas portuguesas dos ensinos básico e secundário e estabelecimentos de educação pré-escolar. A abordagem que se privilegiou procura, entre outros aspetos, acrescentar mais alguns argumentos a uma linha de pesquisa sobre accountability em educação. Uma segunda entrada nesta abordagem propiciou a análise da reconfiguração da identidade dos diretores no quadro das recentes alterações dos modos de regulação da educação, com impacto notório na problemática atrás referida: i) a racionalização da rede escolar e a consequente constituição dos agrupamentos de escolas no território continental; ii) a mudança do modelo de governação escolar, que substituiu o órgão colegial (conselho executivo) pelo órgão unipessoal (diretor); iii) o desenvolvimento do programa de avaliação externa das escolas, iniciado em 2006. A reflexão desenvolvida mobiliza dados de investigação recolhidos no âmbito de projetos já concluídos e em curso, agora analisados a partir de um enfoque mais amplo, buscando novas articulações e insights interpretativos para a compreensão dos efeitos das formas de accountability múltipla sobre o perfil de gestão e liderança dos diretores escolares.