Motivação no trabalho: o caso dos profissionais de serviços administrativos numa organização hospitalar

Abstract

Durante os últimos anos, os trabalhadores de diferentes setores têm desenvolvido várias greves e manifestações onde demostram descontentamento face ao seu trabalho. Alguns desses trabalhadores pertencem ao setor da saúde/hospitalar e, neste contexto, não se fala apenas nos profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, mas também nos trabalhadores pertencentes a departamentos administrativos. Este estudo incide, precisamente, sobre os profissionais do departamento administrativo, em concreto do departamento de contabilidade e do departamento de recursos humanos, de um hospital localizado na região Norte de Portugal. Esta decisão prende-se com o facto de os estudos em unidades de saúde incidirem frequentemente sobre a população de médicos e enfermeiros, descurando a relevância daquele grupo de profissionais. Todavia, na ausência destes profissionais, as consultas/exames não seriam agendadas, os vencimentos não seriam processados e o hospital não seria gerido de maneira a que nada falte para tratar o paciente, por exemplo. Deste modo, é importante perceber os motivos que levam estes profissionais ao descontentamento e desmotivação. Com base nestas considerações é desenvolvido um estudo de cariz qualitativo a este grupo de profissionais. Foram entrevistados 40 indivíduos de forma a descrever e compreender o seu nível de motivação, assim como os fatores que eles consideram motivadores e aqueles que, pelo contrário, os desmotivam no seu trabalho. Os resultados sobressaem os fatores que, na perceção dos entrevistados, são desmotivadores, nomeadamente, os vencimentos baixos, a falta de reconhecimento profissional, as categorias profissionais incoerentes, a desigualdade e desvalorização profissional, a impossibilidade de progressão na carreira, a falta de incentivos e prémios, e a fraca comunicação com a chefia. Neste sentido, uma das recomendações apresentadas pelos entrevistados é a de uma definição mais justa das categorias profissionais, de maneira a que estas espelhem de forma mais fidedigna a função desempenhada por cada colaborador. A valorização dos profissionais é outro fator que deve ser desenvolvido pela instituição, de forma a que estes se sintam mais reconhecidos no trabalho. Com estas medidas, prevê-se que o colaborador fique mais motivado e, logo, mais propenso a ajudar não só o utente como os restantes colegas de trabalho.

During the last few years, workers from different sectors have participated in strikes and other demonstrations to show discontent with work. Some of the protesters belong to the health/hospital sector, and these include not only health professionals, such as doctors and nurses, but also workers from the administrative departments. This study focuses precisely on the case of professionals from the administrative department, the accounting department, and the human resource department of a hospital in the northern region of Portugal. This decision aims to contradict the tendency of studies in health units to privilege doctors and nurses, neglecting the relevance of other professionals. However, in the absence of these professionals, consultations and exams could not be scheduled, salaries would not be processed, and relevant resources to treat the patient could be not available. Thus, it is essential to understand the reasons that lead these professionals to discontent and demotivation. Based on these considerations, it is developed a qualitative study focused on these groups of professionals. Through interviews, forty individuals were invited to reflect on their motivation levels, as well as to highlight the factors they consider to be contributing to their motivation at work and the ones doing the opposite. The results highlight the factors that, in the interviewees' perception, are harmful to work motivation. The list includes low salaries, lack of professional recognition, incoherent professional categories, professional inequality and devaluation, the impossibility of career progression, lack of incentives and rewards, and poor communication with supervisors. Participants also produced several recommendations, including a fairer definition of professional categories and measures intended to recognize good performers. With these measures, employees' motivation is expected to rise, which may contribute to the quality of the service offered to patients and improve work relations.