Representações antropomórficas na arte móvel da Proto-história do Vale do Sabor (Trás-os-Montes Oriental)

Abstract

Nesta dissertação apresentamos o estudo das imagens antropomórficas identificadas na arte rupestre móvel sidérica do vale do Sabor, nomeadamente nos sítios fortificados do Castelinho e de Crestelos. Nestas duas estações foram contabilizadas 25 lajes de xisto com 39 antropomorfos gravados, compostos essencialmente por cavaleiros. A análise das figuras humanas permitiu perceber que estamos perante representações associadas às elites equestres, que utilizavam as imagens dos seus antepassados e dos equídeos, animais de valor e prestígio, para legitimarem o seu poder. Estas elites surgem normalmente em cenas de caça ao javali, ao cervídeo e ao lobo ou raposa, empunhando sobretudo armas de arremesso, como lanças ou javalinas. Assim sendo, é muito provável que estejamos na presença de imagens típicas de comunidades agro-pastoris. Por outro lado, o estudo dos contextos levou-nos a considerar estarmos perante sítios religiososimbólicos, onde se praticavam rituais fundacionais, apotropaicos e sacralizadores associados às muralhas, assim como às suas estruturas de armazenamento. A análise dos contextos, dos paralelos iconográficos, do armamento vinculado aos antropomorfos e das narrativas, permitiu integrar as representações humana, sobre suportes móveis, do vale do Sabor, na II Idade do Ferro, mais concretamente entre o século IV e I a.C. As conclusões aqui apresentadas não têm um carácter definitivo, devendo no futuro ser refutadas ou confirmadas mediante o estudo da restante coleção de gravuras do Castelinho e de Crestelos. Nestes dois sítios foram contabilizados no total 625 suportes móveis, sendo, portanto, o vale do Sabor a zona da Península Ibérica onde foram registadas mais peças do género.

This dissertation presents the results of a study of the anthropomorphic images found in the mobile rock art collection found during the excavation of the fortified settlements of Castelinho and Crestelos in the Sabor Valley. Between these two sites, 25 schist slabs containing 39 engraved anthropomorphs, mostly figures on horseback, were discovered. The analysis of the human figures allowed us to understand that we are dealing with representations associated with equestrian elites, who used the representations of their ancestors and horses, prestigious and valuable animals, to legitimise their power. These elites normally appear within the context of a hunt, be it for boar, deer, wolf or fox and mainly wield throwing weapons such as spears or javelins. Therefore, it is very likely that they are typical scenes of agro-pastoral communities. On the other hand, the study of the contexts can also allow us to consider that we are dealing with religious-symbolic sites, in which foundational, apotropaic and sacramental rituals associated with the sites’ walls, as well as the storage structures within, were practiced. The analysis of the contexts, the iconographic parallels, the weaponry and the narratives portrayed in the images suggest that the human representations on mobile supports from the Late Iron Age found in the Sabor Valley, date more concretely to between the 4th and the 1st century BC. The conclusions presented here are not definitive, and will be refuted or confirmed in the future through the further study of the engravings from Castelinho and Crestelos. In total, 625 engravings on mobile supports were discovered, making the Sabor Valley the area of the Iberian Peninsula in which more pieces of this type were discovered.