Trabalho com famílias refugiadas em Intervenção Precoce: desenvolvemos autonomia ou criamos dependência?

Abstract

No decorrer de 2015, a crise migratória atingiu proporções alarmantes no mundo, especialmente, na Europa. Sabemos que esse tipo de experiência – antes e durante a fuga – é traumatizante, principalmente para as crianças, podendo influenciar o desenvolvimento futuro delas. E ainda, observamos que os países de acolhimento enfrentam desafios nas áreas da educação e da saúde, sobretudo para minimizarem possíveis traumas. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR, 2017), a Alemanha é um dos principais países europeus com pedidos de asilo. Com base nessa informação, o presente estudo examina possíveis abordagens e ofertas de apoio às famílias refugiadas no âmbito da Intervenção Precoce (IP), no estado federal de Rheinland-Pfalz. Neste estudo, de análise qualitativa, coletamos os dados por intermédio de entrevistas. Para tanto, aplicamos um questionário semiestruturado. A pesquisa teve como foco famílias com crianças de 0 até 5/6 anos de idade, haja vista que essa fase é crucial para o desenvolvimento infantil; consequentemente, considerada para a Intervenção Precoce na Infância – IPI (European Agency for Development in Special Needs Education, 2010). Este estudo envolveu seis famílias, sendo quatro delas formadas por ambos os pais, e duas famílias monoparentais (mães); oito crianças entre 1,5 ano e 5 anos; e ainda, sete especialistas em IP e Educação Infantil. Entre os principais resultados encontrados, estão as várias fontes de estresse as quais essas famílias estão expostas, o que, em muitos casos, as limitam a utilizar os serviços de apoio comunitário e/ou governamental. Em particular, verificamos a dificuldade de comunicação, devido à falta proficiência mínima no idioma alemão, o que contribui para o isolamento social dessas famílias. Com relação aos profissionais da equipe de IPI, todos apresentam competências nas suas respectivas áreas de especialização e seguem um protocolo no atendimento às famílias e às crianças. No entanto, o trabalho da equipe não cobre totalmente as necessidades específicas de algumas famílias refugiadas, em especial dos seus filhos. De igual modo, identificamos a necessidade de maior atenção e mais sensibilidade por parte dos profissionais às questões relativas à multiculturalidade.

In 2015, the migration crisis reached alarming proportions in the world, especially in Europe. The experiences before and during the flight are very formative, especially for children, and influence their further development. The host countries are therefore faced with challenges in the areas of education and health, particularly in terms of trauma management and integration. According to the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR, 2017), Germany is one of the European countries with the most asylum applications. On the basis of this information, the present study examines possible approaches and offers of support for refugee families within the framework of early intervention in the federal state of Rheinland-Pfalz. The qualitative method was used for this study. Data were collected through interviews with a semi-structured questionnaire. For the study, the focus was placed on families with children from to 5/6 years of age, as this is the period when child development is most dynamic. This study involved 4 couples and two unaccompanied women, with a total of 8 children aged between 1.5 months and 5 years, as well as 7 experts in early intervention and early childhood education. Among the main results of this study are the various sources of stress to which these families are exposed and which in many cases limit them to using community and/or government support services. In particular, communication difficulties due to lack of language skills support social isolation. Early intervention and early childhood education specialists are competent in their areas of expertise and apply the measures provided. However, these do not fully cover the specific needs of a migrant family and especially their children. They also have difficulties in understanding religious decisions and cultural diversity.