Qualidade de vida em doentes com pé diabético: avaliação do impacto de duas intervenções na adesão aos autocuidados com os pés e cicatrização da úlcera

Abstract

As úlceras do pé diabético (UPD) são uma das complicações mais graves da diabetes e constituem uma fonte de distress emocional com impacto em todas as áreas da vida do doente, traduzindo-se numa diminuição significativa da sua qualidade de vida. A adesão aos autocuidados com os pés permite prevenir as úlceras e pode ser alcançada através de programas de educação. Este trabalho compreende dois ensaios controlados randomizados, cada um com três grupos e três momentos de avaliação. O primeiro estudo analisou o impacto de três formatos de educação – um vídeo educativo, um folheto com leitura guiada em tempo real e um folheto para ler em casa – na promoção do conhecimento e a adesão aos cuidados com os pés, perceção de saúde dos pés e representações sobre o pé diabético. A baseline (T0) ocorreu no dia da primeira consulta do pé diabético, o momento pós-intervenção (T1) 15 dias após o T0 e o follow-up (T2) três meses após T0. Neste estudo participaram 71 doentes com pé diabético e 63 completaram a avaliação T2, seguidos na consulta multidisciplinar do pé diabético de dois hospitais da zona norte. Os resultados mostraram que as três estratégias educativas são eficazes para melhorar os conhecimentos e a adesão aos cuidados dos pés em doentes com pé diabético. O segundo estudo avaliou a viabilidade e a aceitabilidade de uma intervenção de relaxamento muscular progressivo com imaginação guiada focada na cicatrização da UPD em comparação com um placebo de imaginação guiada neutra e um grupo que não recebe qualquer intervenção psicológica, para informar um futuro ensaio definitivo que irá avaliar a sua eficácia na cicatrização da UPD. A baseline ocorreu no dia da primeira consulta da úlcera crónica do pé diabético, o T1 dois meses após o T0, e o T2 seis meses após T0. Neste estudo participaram 54 doentes com úlcera do pé diabético e 32 completaram a avaliação T2, seguidos na consulta multidisciplinar do pé diabético de três hospitais da zona norte. Os resultados mostraram que a intervenção de relaxamento é uma estratégia aceitável, viável com algumas modificações e útil, funcionando como terapia adjuvante para a melhoria da adesão e cicatrização da úlcera. No final do trabalho apresentam-se implicações para a prática clínica e sugestões de investigação futura, bem como o impacto societal dos estudos.

Diabetic foot ulcers (DFU) are one of the most serious complications of diabetes and are a source of emotional distress with an impact on all areas of the patient's life, resulting in a significant decrease in their quality of life. Adherence to foot self-care allows preventing foot ulcers and may be achieved through education programs. This study comprises two randomized controlled trials, each with three arms and three assessment moments. The first study examined the impact of three educational strategies - an educational video, a leaflet with real-time guided reading, and a leaflet to read at home - on the promotion of knowledge and adherence to foot care, perception of foot health, and representations about diabetic foot. Baseline (T0) occurred on the day of the first diabetic foot consultation, the post-intervention moment (T1) 15 days after T0 and the follow-up (T2) three months after T0. In this study participated 71 patients with diabetic foot and 63 completed the T2 assessment, being followed in the diabetic foot multidisciplinary consultation of two northern hospitals. The results showed that the three educational strategies are effective in improving knowledge and adherence to foot care in diabetic foot patients. The second study assessed the feasibility and acceptability of an intervention of progressive muscle relaxation with guided imagery focused on DFU healing compared to a neutral guided imagery placebo and a group receiving no psychological intervention, to inform a future definitive trial that will assess its effectiveness on DFU healing. Baseline occurred on the day of the first diabetic chronic foot ulcer consultation, T1 two months after T0, and T2 six months after T0. Fifty-four patients with diabetic foot ulcer participated in this study and 32 completed the T2 assessment, being followed in the diabetic foot multidisciplinary consultation of three hospitals in the northern region. The results showed that the relaxation intervention is an acceptable, feasible with some modifications and useful strategy, working as an adjuvant therapy for improving adherence and ulcer healing. Implications for clinical practice and suggestions for future research are presented, as well as the societal impact of the studies.