Inclusão e diversidade racial nas universidades públicas brasileiras: uma análise da representatividade na publicidade institucional em uma década da Lei de Cotas

Abstract

A publicidade institucional das universidades federais brasileiras é racista? No contexto governamental, ela pode ser considerada estratégica e coerente com os princípios da Comunicação Pública? Com essas questões de partida, este trabalho apresenta uma discussão acerca da representatividade na imageria referente ao ensino superior público no Brasil por uma perspectiva sociorracial. Aplicando-se uma metodologia de Análise de Conteúdo (AC), realizou-se o estudo de um corpus de 362 imagens veiculadas pelo Ministério da Educação e pelas maiores universidades federais brasileiras de 2012 a 2022 para divulgação de oportunidades de ingresso em cursos de graduação dessas instituições em uma década da lei que estabeleceu reserva de vagas para pretos e pardos na rede federal de ensino. Os dados empíricos evidenciam a persistente sub-representatividade dessa parcela de brasileiros – que corresponde a mais da metade da população do país e a mais da metade dos estudantes matriculados nas universidades federais. Além disso, observa-se que a sub-representatividade de negros ocorreu mesmo durante governos mais identificados com pautas progressistas de inclusão e diversidade, o que contraria valores defendidos por governos e pelas entidades universitárias em outras formas de manifestação dos discursos institucionais, assim como contradiz princípios democráticos representativos implícitos no conceito de interesse público que deveriam ser resguardados pela comunicação pública. À luz de teorias de imagem e representação, poder simbólico e ideologia, conclui-se que a recorrente minoração ou mesmo a anulação da presença negra em grande parte do conjunto analisado são sintomas do racismo estrutural característico da sociedade brasileira que implica a comunicação institucional de organizações públicas no acordo não-verbalizado de preservação de privilégios que Cida Bento chama de “pactos narcisísticos da branquitude”. Mais, entende-se que a publicidade governamental/institucional, opera como âncora simbólica que pode contribuir para retardar o fluxo de mudanças sociais, embora sejam percebidos avanços importantes ao longo do tempo. Desta forma, este trabalho propõe uma reflexão sobre o papel dos profissionais de comunicação atuantes nessas instituições enquanto coautores de discursos socialmente relevantes em um cenário de profundas desigualdades, destacando a importância de uma atuação crítica para o combate ao racismo.

Is the institutional advertising of Brazilian federal universities racist? In the governmental context, can it be considered strategic and coherent with the principles of Public Communication? With these starting questions, this work presents a discussion about the representation in the imagery referring to public higher education in Brazil from a socio-racial perspective. Applying a Content Analysis (CA) methodology, a study of a corpus of 362 images was carried out by the Ministry of Education and by the largest Brazilian federal universities from 2012 to 2022 to publicize opportunities to enter undergraduate courses in these areas. institutions in a decade of the law that established the reservation of places for black and brown in the federal education network. Empirical data show the persistent underrepresentation of this portion of Brazilians – which corresponds to more than half of the country's population and more than half of the students enrolled in federal universities. In addition, it is observed that the underrepresentation of blacks occurred even during governments more identified with progressive inclusion and diversity agendas, which contradicts values defended by governments and university entities in other forms of manifestation of institutional discourses, as well as contradicts representative democratic principles implicit in the concept of public interest that should be protected by public communication. In the light of theories of image and representation, symbolic power and ideology, it is concluded that the recurrent reduction or even the annulment of the black presence in a large part of the analyzed set are symptoms of the structural racism characteristic of Brazilian society that implies the institutional communication of organizations public in the non-verbalized agreement for the preservation of privileges that Cida Bento calls “narcissistic pacts of whiteness”. Furthermore, it is understood that governmental/institutional publicity operates as a symbolic anchor that can contribute to delaying the flow of social changes, although important advances are perceived over time. In this way, this work proposes a reflection on the role of communication professionals working in these institutions as co-authors of socially relevant discourses in a scenario of profound inequalities, highlighting the importance of a critical action to combat racism.