A gestão da educação e formação profissional contínua nas organizações públicas de saúde: modelos de análise dos processos de gestão de formação

Abstract

Afigurada a complexidade da atividade das organizações que integram o Serviço Nacional de Saúde português, tornou-se relevante compreender o funcionamento da educação e formação continua daqueles que desempenham funções nas organizações de saúde, com o objetivo de se perceber os modelos analíticos de educação e formação de adultos nas políticas e práticas adotadas pelas organizações e se estas são influenciadas pelas políticas europeias e nacionais. Para o efeito, criou-se a proposta de um quadro concetual que resultou da combinação de modelos de análise organizacional (os modelos burocrático, político e [neo]institucional) com modelos analíticos de educação de adultos (os modelos de modernização e controlo do Estado, democrático-emancipatório e de gestão de recursos humanos). Teve como resultado a criação de três modelos de análise dos processos de gestão de formação contínua dos profissionais de saúde, o Austero, o Elástico e o Híbrido, validados em quatro organizações de saúde portuguesas de grande dimensão. A metodologia adotada para esta validação foi qualitativa, com o recurso ao método de estudo multicasos. As entrevistas semi estruturadas aos responsáveis e a análise documental representaram as técnicas de recolha de dados. Na análise dos dados empíricos, predominou o Modelo Austero, resultante da combinação do modelo burocrático e do modelo de modernização e controlo do Estado, caraterizado por uma administração hierárquica, supervisão limitada e liderança formal, considerada eficiente e racional na organização dos recursos humanos e no alcance dos objetivos organizacionais. A formação contínua é, nos discursos dos entrevistados, valorizada pelas organizações de saúde pois contribui para o desenvolvimento dos profissionais e para a melhoria da qualidade dos serviços. A gestão da formação nos discursos apresenta uma forte burocratização administrativa, no entanto, os discursos referem simultaneamente que procura atender as necessidades individuais e organizacionais, e a motivação dos profissionais é estimulada. A gestão estratégica por objetivos e a análise de necessidades de formação são práticas adotadas para melhorar o desempenho organizacional corroborando o Modelo Austero. A colaboração entre os pares, o envolvimento dos profissionais, a autonomia relativa dos formadores e a adesão dos formandos aos processos formativos são cruciais para o sucesso da formação. A gestão da formação contínua nas organizações de saúde é um procedimento técnico-burocrático caraterizado como sendo instrumento de controlo do Estado e representando o Modelo Austero.

Given the complexity of the activity of the organizations that make up the Portuguese National Health Service, it has become important to understand the functioning of education and continually train those who perform functions in health organizations, with the aim of understanding whether the analytical models of education and adult training in the policies and practices adopted by organizations and whether these are influenced by European and national policies. To this end, a conceptual framework proposal was created that resulted from the combination of organizational analysis models (the bureaucratic, political and [neo]institutional models) with analytical models of adult education (the models of modernization and State control, democratic-emancipatory and human resources management). The result was the creation of three models for analyzing the continuous training management processes of healthcare professionals, Austere, Elastic and Hybrid, validated in four large Portuguese healthcare organizations. The methodology adopted for this validation was qualitative, using the multi-case study method. Semi-structured interviews with those responsible and document analysis represented the data collection techniques. In the analysis of empirical data, the Austere Model predominates, resulting from the combination of the bureaucratic model and the State modernization and control model, characterized by hierarchical administration, limited supervision and formal leadership, considered efficient and rational in the organization of human resources and in achievement of organizational objectives. Continuous training is, in the interviewees' statements, valued by health organizations as it contributes to the development of professionals and to improving the quality of services. The management of training in speeches presents a strong administrative bureaucratization, however, the speeches mentioned simultaneously seek to meet individual and organizational needs, and the motivation of professionals is stimulated. Strategic management by objectives and analysis of training needs are practices adopted to improve organizational performance, corroborating the Austere Model. Collaboration between peers, the involvement of professionals, the relative autonomy of trainers and the adherence of trainees to the training processes are crucial to the success of training. The management of continuous training in health organizations is a technical-bureaucratic procedure characterized as being an instrument of State control and representing the Austere Model.