Criatividade e resiliência em crianças institucionalizadas: um estudo exploratório

Abstract

A atualidade é pautada pela incerteza e por desafios impostos pelo avanço tecnológico, por problemas socio económicos, ambientais, entre outros. Neste contexto de imprevisibilidade, são necessários cidadãos criativos, capazes de resolverem tais desafios de modo inovador. Também são necessários cidadãos resilientes, capazes de superar de modo positivo os desafios/obstáculos do mundo atual. A promoção destas competências deve ter espaço nos vários ambientes inerentes ao indivíduo, nomeadamente na família e na escola. Todavia, alguns adolescentes são privados do ambiente familiar por situações de vulnerabilidade, não existindo respostas adequadas por parte da família às suas necessidades e interesses. A institucionalização em casas de acolhimento residencial é uma das respostas para tais situações. Neste sentido, esta investigação tem como objetivo caracterizar adolescentes institucionalizados face a criatividade, resiliência e perceções de clima criativo em sala de aula, tendo em conta o género e a escolaridade. Também os monitores dos participantes assinalaram eventos estressores por estes vivenciados. Participaram 35 adolescentes institucionalizados em quatro casas de acolhimento residencial no norte do país, de ambos os géneros, com idades compreendidas entre 13 e 16 anos e frequentando os três ciclos do Ensino Básico. As competências criativas foram avaliadas através da análise, por peritos, de um desenho, e pela listagem de hipóteses de resolução de problemas face a duas fábulas1 . Foi ainda aplicada a Escala sobre o Clima para a Criatividade em Sala de Aula (Morais et al., 2019). Face à resiliência, foi aplicada a Escala de Avaliação da Resiliência em Crianças e Adolescentes, adaptada por Ferreira (2014). Aos monitores aplicou-se o Inventário de Eventos Estressores na Infância e Adolescência (Paletto, 2007). Foram obtidos baixos níveis de criatividade, assim como elevadas perceções de clima criativo em sala de aula e pontuações em resiliência, surgindo estes últimos dados como discutíveis dada a literatura e a conjugação de todos os resultados. Os participantes apresentaram vivência de estressores potencialmente prejudiciais a um desenvolvimento psicológico e social saudáveis.

Today's world is characterized by uncertainty and by the challenges related to technological advances, socio-economic and environmental problems, among others. In this context of unpredictability, we need creative citizens who are able to solve these challenges in innovative ways. Resilient citizens are also needed, capable of overcoming the challenges/obstacles of today's world in a positive way. The promotion of these skills must take place in the various environments inherent to the individual, particularly in the family and at school. However, some teenagers are deprived of their family environment due to situations of vulnerability, and there are no adequate responses from the family to their needs and interests. Institutionalization in residential care homes is one of the answers to such situations. With this in mind, this research aims to characterize institutionalized adolescents in terms of creativity, resilience and perceptions of creative climate in the classroom, taking into account gender and schooling. The participants' monitors also reported stressful events they had experienced. The participants were 35 adolescents institutionalized in four residential care homes in the north of Portugal, of both genders, aged between 13 and 16 and attending the three stages of primary school. Creative skills were assessed by experts analyzing a drawing and by listing problem-solving hypotheses in relation to two fables. The Classroom Climate for Creativity Scale (Morais et al., 2019) was also applied. With regard to resilience, the Scale for Assessing Resilience in Children and Adolescents - adapted by Ferreira (2014) - was applied. The Inventory of Stressful Events in Childhood and Adolescence (Paletto, 2007) was applied to the monitors. Low levels of creativity were obtained, as well as high perceptions of creative climate in the classroom and scores in resilience, the latter data appearing to be debatable given the literature and the combination of all the results. The participants experienced stressors that were potentially harmful to healthy psychological and social development.