O património para (en)formar a identidade: a propaganda no Estado Novo - um estudo com estudantes de 12.º ano de escolaridade

Abstract

Na ótica de autores como Danto (1985), Catroga (2009) e Pinto, “todo o conhecimento do passado é baseado na Evidência” (2016, p. 65), sem a qual, a História não é possível, uma vez, que, por si mesmos, os vestígios do passado demonstram-se incapazes de comunicar. São os/as historiadores/as nas suas investigações e as/os estudantes em sala de aula, que incitadas/os a explicitar e compreender determinados fragmentos do passado, os analisam e interpretam, mediante o questionamento e a problematização, de modo a suplantar o visível e a alcançar, o que não é possível de detetar no imediato. O estudo descritivo, qualitativo e interpretativo, cuja análise de dados se baseia nas propostas de codificação de dados da Grounded Theory, tem como principal desígnio compreender, de que modo, 49 estudantes de duas turmas de 12.º ano de escolaridade do curso de Línguas e Humanidades, com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos, perspetivam o património histórico enquanto Evidência para perscrutarem a política cultural do Regime, e refletirem e se orientarem diante das correntes controvérsias patrimoniais. Tudo isto, à luz do tema: “Crises, embates ideológicos e mutações culturais na primeira metade do século XX” (ME, 2022, p. 8), no âmago, do qual, se insere o subtema: “Portugal: o Estado Novo” (ME, 2022, p. 10), servindo, como objetivos mais específicos, o estudo da política do espírito e a análise de determinados imperativos ideológicos, como o enquadramento das massas e a vertente restauradora da política de obras públicas. Se nos exórdios da IPS, os estudantes não mostraram reconhecer que os historiadores alcançam as suas conclusões por intermédio da análise e interpretação das fontes, e tendiam a encarar, no que concerne ao universo substantivo, o património como uma lembrança, desprovida de intenções, após o trabalho investigativo, alicerçado numa aprendizagem baseada na resolução de problemas (PBL) e no contacto direto com vestígios do passado em estudo, cuja autoria, remete aos mentores das políticas analisadas, notou-se uma progressão das ideias, de modo, que aquelas, tidas, a início, como espelhos do passado, converteram-se em vestígios passivos de análise e interpretação, e o património, em linha com o que Rüsen (2015) designa de consciência histórica genética, transformou-se num objeto de estudo para decifrar os intentos que subjazem a atribuição desse título a um monumento minuciosamente eleito.

n the view of authors such as Danto (1985), Catroga (2009) and Pinto, "all knowledge of the past is based on Evidence" (2016, p. 65), without which History is not possible since the traces of the past are incapable of communicating on their own. It is historians in their research and students in the classroom who, encouraged to explain and understand certain fragments of the past, analyse and interpret them, through questioning and problematisation, in order to overcome what is visible and reach what cannot be immediately detected. The descriptive, qualitative and interpretative study whose data analysis is based on the Grounded Theory’s data coding proposals has as its main purpose to understand the way in which 49 students from two 12th grade Language and Humanities classes, aged between 16 and 19, perceive historical heritage as Evidence for scrutinising the Regime’s cultural policy, and reflecting and orienting themselves in the face of current heritage controversies. All of this in light of the topic: “Crisis, ideological clashes and cultural mutations in the first half of the 20th century” (ME, 2022, p. 8), at the heart of which relies the subtopic: “Portugal: the Estado Novo” (ME, 2022, p. 10), with its more specific objectives being the study of the politics of spirit and the analysis of certain ideological imperatives, such as the framing of the masses and the restorative aspect of the public works policy. If, in the beginning of the STP (Supervised Teaching Practice), the students had not recognised that historians reach both conclusions through the analysis and interpretation of the sources, and tended to view, in what concerns the substantive universe, heritage as a souvenir devoid of intention, after the investigative work, anchored in problem-based learning (PBL) and in direct contact with traces of the past under study, whose authorship refers back to the mentors of the analysed policies, there was a progression of ideas, in a way that those perceived, at first, as mirrors of the past, became passive traces for analysis and interpretation, and heritage, in line with what Rüsen (2015) labels as genetic historical consciousness, became an object of study to decipher the intentions behind the attribution of that title to a carefully chosen monument.