Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/11187

TítuloA sugestionabilidade interrogativa em crianças: o papel da idade e das competências cognitivas
Autor(es)Cunha, Alexandra Isabel da Quintã
Orientador(es)Albuquerque, Pedro Barbas
Albuquerque, Teresa Margarida Moreira Freire Barbas de
Palavras-chaveSugestionabilidade interrogativa
Memórias falsas
Idade
Competências cognitivas
Avaliação forense
Testemunho de crianças
Interrogative suggestibility
False memories
Age
Cognitive competences
Forensic
Data9-Nov-2010
Resumo(s)Fruto do reconhecimento da necessidade crescente de uma abordagem mais rigorosa e de uma avaliação mais fundamentada dos testemunhos em contextos forenses, o final do séc. XX foi pautado por uma mudança significativa no campo de estudo das memórias falsas, assistindo-se ao aparecimento de um número considerável de investigações no domínio da sugestionabilidade. O paradigma da desinformação (misinformation effect) assume-se como aquele que mais se tem destacado ao nível dos contributos que os estudos modelados em contextos laboratoriais podem dar na avaliação da veracidade dos testemunhos em tribunal, promovendo uma compreensão mais ampla e aprofundada, não só das implicações do contexto em que os interrogatórios são levados a cabo e das técnicas de questionamento ou interrogatório a que as testemunhas são submetidas (Schooler & Loftus, 1986), mas também do impacto das diferenças individuais de personalidade e cognitivas no grau de sugestionabilidade evidenciado por cada indivíduo (Gudjonsson, 1983, 2003; Gudjonsson & Clark, 1986). No entanto, os resultados destes estudos não têm sido consensuais, despoletando, entre outras, aquela que é uma das maiores controvérsias patentes na literatura que estuda o papel da sugestão nos testemunhos de vítimas: a associação entre a idade cronológica e a sugestionabilidade. De facto, alguns autores defendem que as crianças mais novas são muito sugestionáveis (Ceci & Bruck, 1993; Ceci, Ross, & Toglia, 1987; Danielsdottir, Sigurgeirsdottir, Einarsdottir, & Haraldsson, 1993; Warren, Hulse-Trotter, & Tubbs, 1991), por contraponto a outros que argumentam a favor da sua competência enquanto testemunhas (Duncan, Whitney, & Kunen, 1982; Flin, Boon, Knox, & Bull, 1992; Goodman & Reed, 1986). Assumindo a prova testemunhal das crianças uma relevância cada vez maior, e impondo-se a necessidade de incluir nos processos judiciais o seu testemunho não corroborado, torna-se determinante clarificar o impacto diferencial que a idade pode ter no grau de distorção pela sugestão a que os depoimentos podem estar sujeitos. Por outro lado, importa também perceber o peso e a influência dos factores contextuais e das diferenças individuais no processo de obtenção de testemunhos em contextos forenses. Este estudo pretende contribuir para o esclarecimento de alguns destes aspectos, para o que foram comparados dois grupos de crianças com 7 e 12 anos. Por ser a que melhor reflecte o impacto dos processos de interrogatório, foi quantificada a sugestionabilidade interrogativa através do recurso a dois instrumentos de avaliação deste fenómeno: as Escalas de Sugestionabilidade de Gudjonsson (GSS2, Gudjonsson, 1987a) e as Escalas de Sugestionabilidade em Vídeo para Crianças (VSSC, Scullin & Ceci, 2001). Por outro lado, o efeito da sugestão foi analisado tendo em consideração a variação de inteligência, de memória fonológica, de memória visuo-espacial e de atenção/impulsividade dos participantes. Os resultados indicam que, de facto, as crianças mais novas têm um pior desempenho nas medidas de evocação e evidenciam maior sugestionabilidade que as crianças mais velhas. As perguntas das escalas que incluem duas alternativas de resposta falsa são aquelas que geram maior tendência para a aceitação da sugestão, e também para a alteração de respostas após a introdução de feedback negativo. A quantidade de informações correctamente evocadas acerca das histórias das GSS2 e das VSSC, o grau de deterioração da memória, e a tendência para a confabulação, não se relacionam de forma significativa com a sugestionabilidade das crianças. Por outro lado, as competências cognitivas das crianças ao nível da memória fonológica e da memória visuo-espacial e o seu grau de sugestionabilidade interrogativa apresentam-se como factores independentes. No entanto, o nível intelectual das crianças mais novas parece mediar a sua sugestionabilidade, na medida em que, melhores competências de inteligência verbal aumentam a resistência à introdução de perguntas sugestivas nas VSSC, e também diminuem o grau total de sugestionabilidade. A impulsividade não se associa de forma linear com a sugestionabilidade interrogativa. Este estudo deixa assim alguns contributos a ter em conta nas avaliações forenses de crianças. Há que ter especial cuidado nas entrevistas junto de crianças novas, porque estas, por comparação com as crianças mais velhas, tendem a mostrar-se mais sugestionáveis. Para além disso, na elaboração dos questionários deve evitar-se, em particular, a introdução de perguntas fechadas que propõem duas alternativas falsas, dado o seu impacto potenciador do grau de aceitação da sugestão nelas contida. A avaliação de crianças novas com poucas competências ao nível da inteligência verbal deve ter em conta a sua particular dificuldade em lidar com perguntas sugestivas, e a consequente distorção mnésica que este tipo de procedimentos de avaliação induz nos seus testemunhos.
Recognized the increasing necessity of more correct approximations and evaluations of forensic testimonies, in the end of XXth century we assisted to a significant change in false memories studies leading to the development of a considerable number of investigations in suggestibility domain. From a relevance point of view, and considering the innumerous studies and investigations/work performed in this area, misinformation paradigm, due to its contributions to the veracity‟s evaluation of court testimonies, plays a distinguished and important role. This paradigm contributes to an ampler and deepened understanding, not only of context and questioning techniques implications (Schooler & Loftus, 1986), but also of the impact of individual differences in personality and cognition on individuals‟ degree of suggestibility (Gudjonsson, 1983, 2003; Gudjonsson & Clark, 1986). The relationship between the degree of suggestibility and the chronological age of the subjects has been considered as extremely controversial in the literature focusing on the role suggestion plays in witnesses‟ accounts. In fact, while some authors hold that early age is a factor of suggestion (Ceci & Bruck, 1993; Ceci, Ross, & Toglia, 1987; Danielsdottir, Sigurgeirsdottir, Einarsdottir, & Haraldsson, 1993; Warren, Hulse-Trotter, & Tubbs, 1991), others argue that even younger children can be competent witnesses (Duncan, Whitney, & Kunen, 1982; Flin, Boon, Knox, & Bull, 1992; Goodman & Reed, 1986). Being children‟s testimonial evidences more and more important, and considering the increasing necessity to include not corroborated testimonies in forensic processes, it becomes essential to clarify age differential impact in the degree of distortion through suggestion. On the other hand, vulnerability to suggestion has also been analyzed through the study of context variations, and individual differences in cognition and personality, in order to understand how the tendency to develop false memories can be influenced. Comparing two groups of children of 7 and 12 years old, the current study tries to clarify the divergences in the relationship between children's interrogative suggestibility and age. Being the one that better exposes the impact of interrogation processes, interrogative suggestibility was quantified through two instruments of evaluation of this phenomenon: the Gudjonsson Suggestibility Scales (GSS2, Gudjonsson, 1987a) and the Video Suggestibility Scales for Children (VSSC, Scullin & Ceci, 2001). On the other hand, suggestion effect was analyzed considering participants‟ intelligence, phonological memory, visual-spacial memory and attention/impulsiveness variations. The results showed that the youngest children perform worst in recall measures and evidence higher suggestibility than the oldest ones. Two false alternative questions of the scales generate a greater trend for the acceptance of suggestion and for answer‟s modification after negative feedback introduction. The amount of information correctly recalled concerning GSS2 and VSSC histories, the degree of memory deterioration and confabulation, did not significantly relate with children‟s suggestibility. Adding to that, children‟s cognitive abilities, like phonological and visual-spacial memory, and interrogative suggestibility seem to be independent factors. However, the intellectual level of the youngest children seems to mediate their suggestibility as better verbal intelligence abilities leads to higher resistance to the introduction of leading questions in the VSSC, and also diminish total suggestibility. Impulsiveness and suggestibility did not linearly associate with each other. This study bring us some relevant contributes to have in account when dealing with children‟s forensic evaluations. Special care when interviewing young children must be taken, given their greater suggestibility, comparing to older children. Introduction of false alternative questions in questionnaires must be avoided, due to their potential impact in the degree of suggestion acceptance. The evaluation of young children with low verbal intelligence should take in consideration their particular difficulty in dealing with leading questions, and the consequent amnesic distortion that this type of evaluation procedures induces in their testimonies.
TipoTese de doutoramento
DescriçãoTese doutoramento Psicologia (área de conhecimento em Psicologia Experimental e Ciências Cognitivas)
URIhttps://hdl.handle.net/1822/11187
AcessoAcesso aberto
Aparece nas coleções:BUM - Teses de Doutoramento
CIPsi - Teses de Doutoramento

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