Adversidade, regulação emocional e ferimentos autoinfligidos nas perturbações da alimentação e da ingestão

Abstract

Introdução: A elevada comorbilidade entre ferimentos autoinfligidos e perturbações da alimentação e da ingestão, sugere que, provavelmente, ambos partilham fatores psicossociais como as experiências de adversidade na infância e as dificuldades de regulação emocional. Objetivo: Este estudo pretendeu avaliar a presença de ferimentos autoinfligidos em indivíduos com perturbações da alimentação, comparar os grupos com e sem ferimentos autoinfligidos e verificar se existem associações entre adversidade, regulação emocional, ferimentos autoinfligidos e comportamentos alimentares disfuncionais. Método: Sessenta e seis participantes com o diagnóstico de perturbação da alimentação foram avaliados, num único momento, através de instrumentos de autorrelato. Resultados: Vinte e quatro participantes (36.4%) relataram a presença de ferimentos autoinfligidos. Este grupo apresentou uma maior gravidade dos comportamentos alimentares disfuncionais. Embora a adversidade não estivesse associada com os comportamentos alimentares disfuncionais ou com os ferimentos autoinfligidos, o modelo de path analysis demonstrou que mais dificuldades de regulação emocional e um maior número de métodos de ferimentos autoinfligidos estavam diretamente associados a uma maior gravidade da patologia alimentar. Discussão: Comportamento alimentar disfuncional, ferimentos autoinfligidos e dificuldades de regulação emocional parecem estar associados. O foco terapêutico nessas dimensões poderá ter implicações na prevenção e tratamento das perturbações da alimentação e da ingestão.

Introduction: The high comorbidity between non-suicidal self-injury and feeding and eating disorders suggests that probably both share psychosocial factors such as adverse childhood experiences and difficulties in emotional regulation. Aim: This study aimed to evaluate the presence of non-suicidal self-injury in individuals with eating disorders, comparing the groups with and without non-suicidal self-injury and to analyze whether there are associations between adversity, emotional regulation, non-suicidal self-injury and dysfunctional eating behaviors. Method: Sixty-six participants with a diagnosis of feeding and eating disorder were evaluated in a single moment, through self-report measures. Results: Twenty-four participants (36.4%) reported the presence of non-suicidal self-injury. This group had a higher severity of dysfunctional eating behaviors. Although the presence of adversity were not associated with dysfunctional eating behaviors or NSSI, the model of path analysis showed that more difficulties in emotional regulation and a greater number of methods of non-suicidal self-injury were directly associated with a higher severity of eating pathology. Discussion: Dysfunctional eating behavior, non-suicidal self-injury and difficulties in emotional regulation seem to be associated. The therapeutic focus on these dimensions may have implications in the prevention and treatment of feeding and eating disorders.