A pobreza das crianças: realidades, desafios, propostas

Abstract

[Excerto] O livro “A Pobreza das Crianças: realidades, desafios, propostas” apresenta um tema de grande actualidade. Dizemo-lo sem júbilo nem qualquer sentido de auto-comprazimento pela convergência com o sentido da agenda social. Na verdade, a actualidade da pobreza das crianças deve -se, sobretudo, ao facto de que, neste fi nal do ano de 2010, ela atinge níveis, expressões e sinais de agravamento e agudização, sem precedentes desde há décadas. Apesar das estatísticas estarem necessariamente desfasadas em cerca de dois anos, são hoje indesmentíveis alguns indicadores concretos desse agravamento: a pobreza infantil está a aumentar em termos absolutos e em termos relativos; a pobreza infantil é superior à média de pobreza da população portuguesa (isto é, há, percentualmente, mais crianças pobres do que adultos pobres) e a infância é o grupo geracional mais afectado pela pobreza. A estes indicadores, acrescem aqueles que resultam dos relatos do quotidiano, os quais, sem a precisão da razão estatística (apesar desta, é certo, ser decorrente de critérios que condicionam e limitam os seus resultados, designadamente a definição de pobreza – indicador económico de menos de 60% do rendimento médio per capita de uma determinada população –, e a unidade estatística de análise não ser a mais apropriada – habitualmente a família e não a criança), nem por isso deixam de ser profundamente ilustrativos de tantas centenas de milhares de crianças na actualidade: aumentam os pedidos de ajuda alimentar junto das organizações não -governamentais; cresce o número de requerimentos do escalão máximo da acção social escolar; os programas de apoio familiar e o rendimento social de inserção têm um crescimento significativo no número de requerentes, apesar das regras de acesso serem mais restritivas; todos os dias as instituições particulares de solidariedade social denunciam novos “focos” ou “bolsas” de pobreza... [...]