Teletrabalho em tempos de pandemia COVID-19: experiências e expectativas no regresso ao trabalho

Abstract

Decorridos estes dois últimos anos, são inegáveis as mudanças que a pandemia suscitou no trabalho e nas relações laborais. A presente dissertação procurou analisar os efeitos do teletrabalho e apurar a intensidade com que os mesmos se reproduzem na saúde física e mental, na (in)satisfação profissional e na conciliação entre trabalho e vida familiar, procurando-se, ainda, apurar e captar as diferenças entre os diferentes regimes de teletrabalho, isto é, entre o regime de teletrabalho exclusivo e entre o regime de teletrabalho híbrido. Para além disto, procurou-se perceber se o teletrabalho correspondeu às espectativas dos teletrabalhadores, assim como averiguar quais os valores e expectativas predominantes para com o (tele)trabalho. Se o desempenho de uma atividade profissional possuía, outrora, um carácter manifestamente presencial esta, fruto das imposições sanitárias decorrentes da Covid-19, adquire, a partir de então, uma feição digital. O trabalho sofre um processo de segmentação e reconfiguração, no qual o teletrabalho se assume como um modelo alternativo transportando consigo novas oportunidades e desafios que importa problematizar. Desde os efeitos na saúde física e mental, à (in)satisfação profissional bem como aos desafios perante a conciliação entre vida pessoal/profissional, os contributos teóricos e as evidências empíricas disponíveis sobre o teletrabalho não reúnem unanimidade. Perante a incerteza que esta modalidade suscita, bem como os efeitos decorrentes que a mesma transporta, a presente dissertação procura, de entre as várias investigações existentes sobre o tema, contribuir para o debate e aprofundamento do teletrabalho, problematizando os seus efeitos. Em termos metodológicos, esta dissertação segue o desenho de pesquisa quantitativo, suportada na reformulação do inquérito por questionário utilizado, em 2020, no projeto “Regresso ao trabalho pós COVID-19: (Re)centramento de valores?”, sob coordenação de Ana Paula Marques. Tendo sido possível replicar aquele questionário reformulado em 2022, os resultados apontam que, apesar das mudanças que, à partida, a pandemia suscitou no mercado de trabalho, quer nas relações laborais quer, ainda, quanto às expectativas futuras para o futuro, os resultados desta dissertação indicam que os (tele)trabalhadores não consideram que a pandemia tenha tido efeitos na sua saúde física e mental, na conciliação entre vida profissional e vida familiar e, ainda, na (in)satisfação laboral, salvaguardando-se, todavia, especificidades decorrentes de variáveis sociodemográficas como sexo, faixa etária, estado civil e composição do agregado familiar.

After these last two years, the changes that the pandemic brought about at work and in labor relations are undeniable. This dissertation sought to analyze the effects of teleworking and determine the intensity with which these effects are reproduced on physical and mental health, professional (dis)satisfaction and the conciliation between work and family life, also seeking to determine and capture the differences between the different teleworking regimes, that is, between the exclusive teleworking regime and between the hybrid teleworking regime. In addition, we sought to understand whether teleworking corresponded to the expectations of teleworkers, as well as to find out what the predominant values and expectations were regarding (tele)working. If the performance of a professional activity had, in the past, a manifestly face-to-face character, this one, as a result of the health impositions resulting from Covid-19, acquires, from then on, a digital feature. Work undergoes a process of segmentation and reconfiguration, in which telework is assumed as an alternative model, carrying with it new opportunities and challenges that need to be problematized. From the effects on physical and mental health, to professional (dis)satisfaction as well as the challenges faced with reconciling personal/professional life, the theoretical contributions and empirical evidence available on telework do not meet unanimity. Faced with the uncertainty that this modality raises, as well as the resulting effects that it carries, this dissertation seeks, among the various existing investigations on the subject, to contribute to the debate and deepening of teleworking, problematizing its effects. In methodological terms, this dissertation follows the quantitative research design, supported by the reformulation of the questionnaire survey used, in 2020, in the project “Return to work after COVID 19: (Re)centering of values?”, coordinated by Ana Paula Marques. As it was possible to replicate that reformulated questionnaire in 2022, the results indicate that, despite the changes that, from the outset, the pandemic brought about in the labor market, both in labor relations and also in terms of future expectations for the future, the results of this dissertation indicate that (tele)workers do not consider that the pandemic has had effects either on their physical and mental health, or on the conciliation between professional and family life, and on job (dis)satisfaction, safeguarding, however, some specificities along with both the dimensions under analysis and also according to gender, age group, marital status as well as the composition of the household.