Escola e festa cívica - Aproximações num contexto rural português (Avintes, Vila Nova de Gaia) entre 1890 e 1920

Abstract

A freguesia de Avintes, na viragem para o século XX, assistiu à progressiva passagem de um espaço rural para um outro onde já são visíveis os índices de industrialização e a consolidação do sector comercial começa a ser vincada. Avintes apresenta todavia uma peculiaridade: congregou diferentes individualidades - capitalistas, “brasileiros”, maçons, professores,…- unidas no seu interesse pela educação popular e a dinamização cultural. É numa conjuntura de mudança económico-social favorável ao desenvolvimento da escolarização que pretendemos abordar, com uma dupla objetivação, via a realização das festas escolares. Como pressupostos, vincamos, por um lado, que estas festividades acompanharam o processo de alfabetização, levado a cabo a partir da segunda metade do século XIX, estando associadas à valorização do mérito individual e ao envolvimento das populações nas vantagens da Escola, no caminho do progresso e da cidadania, aliás como foi sendo plasmado na legislação educativa. Por outro lado, destacaremos que a filantropia educativa impulsionava estas manifestações cívicas, enquanto modalidade de afirmação de autonomia da sociedade civil. Com a República, há um esforço pela modificação da cultura escolar a vários níveis e as festas emergem, então, num contexto de alternativa laica e de substituição de antigos símbolos e de rituais. Com esta dupla entrada, pretendemos, então, sinalizar, com base num estudo de caso, como num espaço em mudança, a escola foi apoiada, pelas elites locais, e apropriada pelas classes populares, sendo a festa cívica (nas suas metamorfoses) uma das vias para compreender o processo de escolarização em contexto rural.

The parish of Avintes, at the turn of the 20th century, saw the progressive transition from a rural area to another one where industrialization indexes are already visible and the consolidation of the commercial sector is beginning to be marked. However, Avintes has a peculiarity: it brought together different individuals - capitalists, “Brazilians”, Freemasons, teachers,… - united in their interest in popular education and cultural dynamism. It is in an environment of economic and social change favorable to the development of schooling that we intend to approach, with a double objectification, via the holding of school feasts. As assumptions, we emphasize, on the one hand, that these festivities accompanied the literacy process, carried out from the second half of the 19th century, being associated with the valorization of individual merit and the involvement of the population in the advantages of the School, in the path of progress and citizenship, in fact as it was being molded in the educational legislation. On the other hand, we will highlight that educational philanthropy promoted these civic manifestations, as a form of affirmation of civil society's autonomy. With the Republic, there is an effort to change school culture at various levels and the festivals then emerge in a context of secular alternative and replacement of ancient symbols and rituals. With this double entry, we intend, then, to signal, based on a case study, as in a changing space, the school was supported, by the local elites, and appropriated by the popular classes, being the civic party (in its metamorphoses) one of the ways to understand the schooling process in a rural context.

La parroquia de Avintes, a comienzos del siglo XX, fue testigo de la transición progresiva de una zona rural a otra donde los índices de industrialización ya son visibles y la consolidación del sector comercial comienza a marcarse. Sin embargo, Avintes tiene una peculiaridad: reunió a diferentes individuos - capitalistas, “brasileños”, masones, maestros,… - unidos en su interés por la educación popular y la dinamización cultural. Es en un entorno de cambio económico y social favorable al desarrollo de la escolaridad que pretendemos abordar, con una doble objetivación, a través de la celebración de las fiestas escolares. Como supuestos, destacamos, por un lado, que estas festividades acompañaron el proceso de alfabetización, realizado a partir de la segunda mitad del siglo XIX, estando asociadas a la valorización del mérito individual y a la implicación de la población en las ventajas de la Escuela, en el camino del progreso y de la ciudadanía, de hecho, tal como se estaba moldeando en la legislación educativa. Por otro lado, destacaremos que la filantropía educativa promovió estas manifestaciones cívicas, como una forma de afirmación de la autonomía de la sociedad civil. Con la República, se hace un esfuerzo por cambiar la cultura escolar en varios niveles y las fiestas luego emergen en un contexto de alternativa secular y reemplazo de símbolos y rituales antiguos. Con esta doble entrada pretendemos, entonces, señalar, a partir de un estudio de caso, como en un espacio cambiante, la escuela fue apoyada, por las élites locales, y apropiada por las clases populares, siendo la fiesta cívica (en sus metamorfosis) una de las formas de entender el proceso de escolarización en un contexto rural.