Os palcos da desigualdade de género: o Teatro da/e/o Oprimida/e/o como ferramenta de (des)construção de estereótipos e cidadania

Abstract

A desigualdade de género encontra-se imbuída dos mais diversos estereótipos que se materializam em papéis de género socialmente criados e expectáveis de serem encarnados em sociedade, sendo esta tendência particularmente apurada no que concerne ao género feminino. Neste prisma, a presente dissertação propõe-se a extrair as multívocas perceções das/es/os jovens relativamente à desigualdade de género, fazendo uso do Teatro da/e/o Oprimida/e/o (TO) para a desconstrução de perceções internalizadas quanto ao género e a construção de uma consciência social mais proativa e empática face a este flagelo. Ademais, coloca-se em perspetiva as vantagens de inclusão do TO como ferramenta frutífera para a educação para a cidadania. A investigação pauta-se por métodos qualitativos, nomeadamente a observação participante e não participante e, em tom de desafio metodológico, dois laboratórios de TO dinamizados em duas turmas de estudantes de nível secundário. Esta investigação, vertida em dissertação, não teve a pretensão utópica de produzir resultados claros e concretos, porém, almejou amplificar as vozes das, des e dos jovens e colocar em destaque as potencialidades do TO como metodologia de intervenção social e prevenção, no âmbito das desigualdades e violências de género, bem como método qualitativo pertinente para as Ciências Sociais. Não obstante, espera-se que seja dada uma oportunidade ao processo de (des)construção proposto por Boal, já que, por si só, “A arte criada pelo conjunto de cidadãos-artistas é plural desde o início (…) O próprio ato de prepará-la é ação propedêutica que leva à ação social. Obra aberta que exige continuidade no real.” (Boal, 2009, p. 109).

Gender inequality is imbued by multiple stereotypes that are materialized into gender roles socially created and expected to be embodied in society, being this tendency particularly acute regarding the feminine gender. Seen in this light, the present dissertation proposes to extract the multiple perceptions of young people concerning gender inequality, making use of the Theatre of the Oppressed (TO) for the deconstruction of internalized perceptions related to gender and the construction of a more proactive and empathic social awareness to face this scourge. Furthermore, the advantages of including TO as a fruitful tool for citizenship education are put into perspective. The investigation is guided by qualitative methods, such as participant and non-participant observation and, in tone of methodological defiance, two TO laboratories conducted with two classes of high school students. This investigation, poured into dissertation, did not have the utopian pretension of producing concrete and clear results, however, it sought to amplify the voices of young people and to shed some light on the potential of TO as a methodology for social intervention and prevention in terms of gender inequalities and gender-based violence, as well as a relevant qualitative method for Social Sciences. Nonetheless, it is expected that there’s given an opportunity to the process of (de)construction proposed by Boal since, by itself, “The art created by the whole of citizens-artists is plural since the start (…) The act of preparing it is on itself propaedeutic action that leads to social action. Open work that demands continuity in the real.1” (Boal, 2009, p. 109).